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OMS diz que não há provas de que ibuprofeno piora a covid-19

19 de março de 2020

Dois dias depois de desaconselhar uso de anti-inflamatórios como ibuprofeno no tratamento da doença causada pelo novo coronavírus, órgão diz que não há evidências de efeitos negativos.

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Duas caixas de ibuprofeno com modelo de coronavírus ao fundo
"Não há relatos de efeitos negativos do ibuprofeno, além dos que limitam o uso (do em certos grupos", diz OMSFoto: picture-alliance/dpa/L. Mirgeler

A Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou atrás nesta quinta-feira (19/03) em sua recomendação de não usar medicamentos à base de ibuprofeno para o tratamento de pacientes com covid-19, a doença causada pelo coronavírus Sars-Cov-2.

Em nota divulgada em redes sociais como Twitter e Facebook, a agência de saúde das Nações Unidas escreveu que, "com base em informações disponíveis atualmente, a OMS não recomenda contra o uso de ibuprofeno. A OMS tem consciência das preocupações relativas ao uso do ibuprofeno para o tratamento de febre em pessoas com covid-19. Estamos consultando os médicos que tratam os pacientes e não temos ciência de relatos de quaisquer efeitos negativos, além dos comuns que limitam o uso (do medicamento) em certos grupos", diz o comunicado.

Na última terça-feira, a OMS havia recomendado não usar ibuprofeno para tratar a covid-19. Em caso de uma infecção pelo coronavírus, os pacientes não deveriam tomar o remédio sem aconselhamento médico. A OMS recomendou que se usasse paracetamol.

A confusão sobre o ibuprofeno surgiu após um tuite do ministério da Saúde da França alertando para os riscos do princípio ativo. O alerta foi baseado numa pesquisa publicada na revista científica The Lancet na semana passada. Os autores do estudo, que investiga se pacientes hipertensos e com diabetes correm maior risco de contrair infecções pelo coronavírus, suspeitam que o ibuprofeno – um anti-inflamatório da classe dos não esteroides – pode aumentar a presença de uma molécula conhecida como ECA2 (similar à chamada enzima conversora de angiotensina, ou ECA) nas células.

É como se ECA e ECA2 fossem "parceiras" ou peças que se encaixam, como num quebra-cabeça. A enzima ECA se conecta à molécula ECA2, que é um receptor presente na superfície de células no pulmão, no intestino, nos rins e em vasos sanguíneos.

O problema é que a ECA contribui para elevar a pressão no sangue. E muitas pessoas hipertensas, diabéticas ou com doenças cardiovasculares – consideradas parte do grupo de risco de contrair o coronavírus – usam os chamados inibidores de ECA para controlar a pressão sanguínea.

Os inibidores bloqueiam a ECA, cujos "encaixes" são as enzimas ECA2. Assim, as moléculas ECA2, ou "portas" das células, ficam abertas, sem ECA para se encaixar.

Os vírus do tipo Sars, como o novo coronavírus, acabam se aproveitando dessas "portas abertas" para invadir as células, suspeitam os autores. Em outras palavras, os vírus usam a enzima ECA2 para penetrar nas células e iniciar sua replicação.

Outra suspeita é de que, quando as enzimas ECA são fechadas por medicamentos inibidores de pressão alta, as células até aumentem o número de "encaixes" ECA2 – o que daria aos vírus até mais oportunidades de invasão, ou seja, mais "portas" para entrar nas células. "A hipertensão também é tratada com inibidores de ECA, o que resulta num maior número de ECA2" no organismo, diz o estudo.

Ou seja: no caso de uma infecção viral, tenta-se reduzir a inflamação por uma diminuição desses receptores ECA2, usando remédios anti-inflamatórios. Com isso, os autores especulam que as células perdem sua função natural de proteção – os anti-inflamatórios não esteroides favoreceriam, portanto, um agravamento da doença pulmonar covid-19.

Os pesquisadores desconfiam que medicamentos contra a diabetes, como tiazolidinediona, além de cortisona, tenham efeito parecido no agravamento da infecção por coronavírus.

Os autores fizeram questão de formular o texto como uma hipótese. "(...) levantamos a hipótese de que o tratamento de diabetes e hipertensão por medicamentos que estimulam a ECA2 aumenta o risco de desenvolver covid-19 grave e fatal", escreveram.

Especialistas favoráveis à hipótese acreditam que esse seja o motivo pelo qual a taxa de mortalidade pelo coronavírus seja tão alta na Itália, já que muitas pessoas no país usam inibidores de ECA. Mas não há dados confiáveis para corroborar a afirmação.

Também nesta quinta, a Agência Médica Europeia (EMA, na sigla em inglês), órgão de saúde da União Europeia, disse que não havia evidências atuais de que anti-inflamatórios como o ibuprofeno estejam relacionados à piora da doença covid-19. A agência disse estar monitorando a situação e pediu que pacientes considerem várias opções de tratamento, incluindo paracetamol e remédios anti-inflamatórios.

RK/dw/rtr/ots

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