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ONGs criticam créditos alemães para "rei da soja"

Geraldo Hoffmann6 de junho de 2005

Banco WestLB concedeu financiamento a Blairo Maggi, governador do Mato Grosso e um dos maiores produtores de soja do mundo. Para ambientalistas, ele é "campeão do desmatamento"; para o banco, um sojicultor exemplar.

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Aumento de desmatamento continua repercutindo no exteriorFoto: AP

Entre os candidatos ao prêmio de protesto "Motosserra de ouro para o desmatamento da floresta tropical", que a organição Greenpeace concede no Brasil nesta segunda-feira (06/06), encontra-se, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um nome que causa polêmica também na Alemanha. Trata-se de Blairo Maggi, governador do Mato Grosso e dono do grupo Maggi, considerado um dos maiores produtores de soja do mundo.

"O governador é campeão absoluto de desmatamento, responsável por 48% do total destruído em 2003–2004", dispara o ecologista gaúcho Antônio Andrioli, que atualmente escreve na Universidade de Osnabrück, na Alemanha, tese sobre a expansão do cultivo de soja transgênica no Brasil.

O motivo da crítica e também da nomeação de Maggi ao prêmio do Greenpeace são os dados divulgados recentemente pelo Ministério do Meio Ambiente em Brasília, segundo os quais de agosto de 2003 a agosto de 2004 foram destruídos 26.130 km2 de florestas no país. Isso corresponde à metade do território da Suíça e 6% a mais que no ano anterior. É também o segundo maior índice de desmatamento da história – o maior, de 29 mil km2, foi em 1995.

Desmatar para plantar soja

O Mato Grosso é o Estado mais atingido, com 12.586 km2 desmatados, cerca de 20% a mais que em 2002. O Greenpeace responsabiliza o governador e "rei da soja" Blairo Maggi, dono do grupo Maggi (seu braço internacional é a Amaggi), por este alto índice de destruição.

A soja é atualmente o principal produto de exportação do Brasil, rendeu US$ 8 bilhões em divisas ao país em 2004. Grande parte da produção vai para a Europa. A União Européia importa anualmente cerca de 20 milhões de toneladas de soja em grão e em torno de 21 milhões de toneladas de farelo de soja. Segundo Andrioli, só a Alemanha importa cerca de três milhões de toneladas de farelo de soja por ano, a maior parte do Brasil.

Antonio Andrioli
Antonio Andrioli: 'Maggi é campeão de desmatamento'Foto: Evangelischer Entwicklungsdienst

Ele alerta também que a expansão do cultivo da soja para estimados 90 milhões de hectares até 2020, incluindo 16 milhões de hectares de savanas e seis milhões de hectares de florestas tropicais, "segue uma política que tem pouca sensibilidade para riscos e conseqüências ambientais".

Financiamentos da Alemanha

Também na Alemanha aumentam as dúvidas quanto à sustentabilidade ambiental do boom da soja brasileira. Organizações não governamentais criticam os bancos internacionais – entre eles o alemão WestLB – por financiar a produção do grão, que indiretamente favoreceria o desmatamento. O WestLB (banco estadual da Renânia do Norte-Vestfália) admite ter arranjado para a Amaggi em meados de 2003 um financiamento de exportação de curto prazo no valor de US$ 80 milhões, disponibilizados em conjunto com outros bancos.

Segundo informações publicadas no site da ONG Rios Vivos, em 2004, o IFC (Internacional Finance Corporation), que administra os créditos privados do Banco Mundial, viabilizou mais um financiamento de US$ 230 milhões ao grupo Amaggi. O dinheiro teria sido disponibilizado por um consórcio de bancos liderado pelo Rabobank, da Holanda. Os outros bancos participantes teriam sido o WestLB AG, o ING Bank (Holanda), HSBC (Reino Unido), BNP Paribas (França), Crédit Suisse First Boston (Suíça), UFJ Bank (Japão), Fotis Bank (Holanda/Bélgica), HSB Nord Bank (Suécia), Bradesco e Itaú. Além disso, segundo a Rios Vivos, em maio de 2001 a DEG (Deutsche Investions- und Entwicklungsgesellschaft) já havia liberado um crédito de US$ 24 milhões à Amaggi.

"Empresa modelo do setor"

Goldene Kettensäge für Tropenwalzerstörung
Campanha do Greenpeace:'O massacre da motosserra de ouro'

Já antes da publicação dos últimos dados sobre o desmatamento, representantes das ONGs Urgewald (alemã) e Rios Vivos (brasileira) haviam pressionado o WestLB a repensar seu apoio ao cultivo de soja no Brasil, em reunião realizada em 2 de maio passado na sede do banco em Düsseldorf. Segundo Barbara Happe, da Urgewald, na ocasião "tratou-se exclusivamente dos créditos concedidos repetidamente pelo WestLB ao grupo Maggi no Brasil. Não houve concessões por parte do banco no sentido de renunciar futuramente à liberação de créditos à empresa. O WestLB é da opinião de que esse grupo é uma empresa modelo no setor de soja".

O banco só estaria disposto a conversar com a Maggi sobre o assunto sustentabilidade – disse Happe à DW-WORLD – , "se nós de fato pudermos comprovar que este grupo está concretamente envolvido na destruição de florestas tropicais ou violação de direitos humanos. O fato de no Mato Grosso, Estado governado pelo chefe do grupo Maggi, ter sido registrado duas vezes consecutivamente o maior índice de desmatamento do país foi considerado insuficiente para procurar a conversa com o grupo Maggi".

WestLB: "campanha"

O banco, que no passado foi fortemente criticado por ONGs por ter cofinanciado um oleoduto na região amazônica do Equador, criou em 2004 um departamento de sustentabilidade ambiental e garante que não financia projetos específicos da empresa brasileira. "Caso sejamos procurados no futuro pela Amaggi para o financiamento de projetos, naturalmente vamos averiguar este pedido com base nos Princípios do Equador, desenvolvidos por nós, quanto ao cumprimento dos padrões estabelecidos pelo Banco Mundial", informaram os executivos Foster Deibert e Marek Wallenfels à DW-WORLD.

A relação do WestLB AG com a Amaggi estaria restrita à participação na concessão de créditos gerais consorciais à empresa. Desde a assinatura voluntária da Declaração do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas para Instituições Financeiras (UNEP-FI), o banco estaria exigindo de todos os seus clientes o respeito aos padrões ambientais e sociais. "Nem no âmbito da nossa conversa com as ONGs no dia 2 de maio nem por outra fonte foram apresentadas até agora informações ao WestLB, que deixem supor que nosso cliente Amaggi transgrida prescrições ambientais e sociais. Pelo contrário, a Amaggi – apesar da campanha em curso – tem a reputação, também em relação a padrões ambientais, sociais e de transparência, de ser um modelo entre as empresas do setor da soja", garantem os executivos do banco.

Apesar disso, Andrioli diz que "é contraditório o discurso do governo alemão no que se refere à sua responsabilidade social e ambiental com os países pobres, quando há instituições alemãs e dinheiro público contribuindo para o aprodundamento da destruição da natureza no Brasil".