Ontong Java, o paraíso que pode desaparecer no Pacífico
28 de setembro de 2015Poucas pessoas já ouviram falar de um dos maiores atóis do mundo: Ontong Java, nas Ilhas Salomão. Mas o anonimato não conseguiu salvá-lo dos efeitos das mudanças climáticas. Inacessível por via aérea e visitada apenas esporadicamente por um navio de abastecimento, a comunidade de 3 mil habitantes espera salvar seu povo e sua cultura da elevação dos níveis do mar e das tempestades cada vez mais severas.
O atol de Ontong Java é um anel de 120 ilhas localizado no oceano Pacífico ocidental – cerca de 500 quilômetros ao norte de Honiara, a capital das Ilhas Salomão. Uma das massas de terra mais remotas do mundo, as ilhas abrangem 1.400 quilômetros quadrados. Desses, 12 quilômetros quadrados são de terra, que não ficam mais de 3 metros acima do nível do mar.
A população de Ontong Java sempre viveu à mercê do vento e das ondas, mas a vida, em grande parte de subsistência, que levaram durante séculos, está se tornando cada vez mais insustentável.
Nos últimos anos, os habitantes do atol têm vivido em meio ao agravamento da insegurança alimentar, à severa erosão costeira e à crescente perspectiva de fugir para um futuro incerto em ilhas mais elevadas.
Com ventos e fortes ondas, não apenas o oceano está inundando o atol, como também, com o aumento do nível do mar, a água salgada agora borbulha pelo solo de coral poroso. "É como se a ilha estivesse vazando", diz um morador.
Mudança de ilha
Na parte sul de Pelau, ilha que cerca de 600 pessoas chamam de casa, antes havia uma aldeia. Hoje é difícil imaginar outra coisa senão a água do mar fluindo para a lagoa.
"Quando eu tinha dez anos, havia um monte de casas", conta Chris Keungi, de 40 anos, filho de um ex-chefe local. "Quando voltei dez anos depois, vi muitas mudanças. A erosão do solo começou a levar a maioria das casas que haviam sido afetadas pela subida do mar."
O aumento do nível do mar é apenas uma das ameaças que pesam sobre o atol. No final de junho de 2015, Ontong Java foi atingido por duas ondas muito grandes nas ilhas do sul, seguidas imediatamente por rajadas de vento com velocidades que chegavam a 125 quilômetros por hora – geradas pelo ciclone Raquel. Na ilha de Luaniua, a maior do atol, com uma população de 2 mil pessoas, mais de 80 estruturas, incluindo casas, foram destruídas.
Quando confrontados com a realidade das mudanças climáticas, Keungi, sua família e o resto dos habitantes do atol têm cada vez menos opções. Os planos de transferir os polinésios de Ontong Java para a culturalmente distinta ilha de Malaita, na região da Melanésia, falharam.
Os moradores das ilhas já entenderam a crescente necessidade de se mudarem, mas, no momento, a maioria não tem a intenção de fazê-lo. Quando esse dia finalmente chegar, muitos no atol preferem ir para a ilha de Santa Isabel, cerca de 300 quilômetros ao sul.
Eles veem em Santa Isabel a melhor chance de encontrar um lugar onde possam se restabelecer e ser recebidos com pelo menos um pouco de sua cultura e tradições passadas intactas.
Acordo global
Em dezembro deste ano, a comunidade internacional se reúne em Paris para discutir um novo acordo global sobre as mudanças climáticas. Para ilhas do Pacífico como as de Ontong Java, não poderia haver mais questões em jogo.
Se as negociações em Paris tiverem sucesso – e novas regras forem criadas para reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito de estufa e assegurar a proteção daqueles já afetados pelas mudanças climáticas, como o povo de Ontong Java —, o encontro poderá garantir um futuro para os moradores das ilhas do Pacífico.
No entanto, se grandes emissores – incluindo um dos vizinhos mais próximos das Ilhas Salomão, a Austrália – conseguirem enfraquecer a proposta atual e permitir que cada vez mais combustíveis fósseis sejam explorados e queimados, os 3 mil habitantes de Ontong Java serão forçados a fugir das ilhas que chamam de casa há gerações.
Em junho e julho de 2015, a organização não governamental Displacement Solutions enviou o fotojornalista Beni Knight a Ontong Java por dois meses, para documentar a realidade do atol. O resultado você confere na reportagem e no ensaio fotógráfico exclusivos publicados pela DW.