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ONU critica inércia de potências ocidentais em relação à Síria

5 de março de 2014

Cinco potências com direito a veto no Conselho de Segurança também são responsáveis pela radicalização e aumento da violência no país árabe, afirma relatório de comissão liderada por brasileiro.

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Foto: Getty Images

A comissão da ONU que investiga as violações dos abusos de direitos humanos na Síria afirma, em relatório divulgado nesta quarta-feira (05/03), que a comunidade internacional também é culpada pelas atrocidades cometidas no país.

O relatório, sétimo do grupo liderado pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro e que abrange o período entre julho do ano passado e janeiro deste ano, conclui que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Reino Unido, China, França e Rússia) falharam em responder às graves violações cometidas pelo regime de Bashar al-Assad.

Os principais aliados da Síria no Conselho de Segurança – China e Rússia – bloquearam sistematicamente propostas de ação apresentadas no órgão.

"Esta inércia deu espaço para a proliferação de atores na República Árabe da Síria, cada um deles indo atrás de seus próprios interesses e contribuindo para a radicalização e aumento da violência", afirma o documento. "O Conselho de Segurança carrega essa responsabilidade."

Acusações aos rebeldes

Pela primeira vez, a comissão acusou os rebeldes que lutam contra o regime de Assad de cometer crimes contra a humanidade. No relatório, os investigadores afirmam que diversos grupos islâmicos torturaram civis.

Os vários grupos da oposição são responsáveis por crimes como assassínios, execuções sumárias, tortura, sequestros e violações, assim como ataques contra médicos, religiosos e jornalistas, afirma o relatório.

As vítimas mais duramente atingidas são os civis das áreas controladas pelo grupo radical Estado Islâmico do Iraque e do Levante (IEEL) na província de Raqqa, sistematicamente sujeitos a "sofrimento físico e psicológico sistemático".

O documento ainda ressalta que as forças do governo e suas milícias aliadas são responsáveis por "ataques generalizados contra civis e atos sistemáticos de assassínios, tortura, violações e desaparecimentos forçados, como crimes contra a humanidade". As forças do regime também são responsáveis por crimes de guerra como assassinatos, massacres, sequestros e o envio de crianças ao front.

Cerco a cidades

A comissão de inquérito também criticou o recurso ao cerco de cidades e à fome como métodos de guerra por parte do regime. "Mais de 250 mil pessoas estão cercadas na Síria, regularmente bombardeadas pela artilharia e a aviação. Estão privadas de ajuda humanitária, de alimentos, de cuidados médicos e são forçadas a escolher entre a fome e a rendição", afirma o relatório.

"O governo usa a técnica do cerco, instrumentalizando as necessidades fundamentais de água, alimento e cuidado médico como elementos da sua estratégia", acrescenta o documento, que denuncia uma "campanha de morte pela fome até à submissão".

"Esta campanha é aplicada no contexto de total violação dos direitos humanos e da lei humanitária internacional", afirma, destacando as situações em Ghouta, Daraya e Moadamiyet al-Sham, na zona rural de Damasco, no campo de refugiados palestinianos de Yarmuk, perto da capital, e na parte antiga de Homs.

A comissão, que não recebeu autorização para entrar na Síria, teve como base para seu relatório 2.600 entrevistas.

RM/ap/dpa/lusa/epd