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Opinião: Angela Merkel e seu inabalável sangue frio

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Jens Thurau
12 de fevereiro de 2018

Na primeira aparição midiática após o caos das últimas semanas, a tranquilidade da chanceler federal alemã deixou muitos perplexos. Não seria de espantar se mais uma vez o "método Merkel" funcionar, opina Jens Thurau.

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Concessões aos social-democratas para a coalizão de governo também lhe doeram, diz Merkel – mas quase não se nota
Concessões aos social-democratas para a coalizão de governo também lhe doeram, diz Merkel – mas quase não se notaFoto: AFP/Getty Images

Na noite deste domingo (11/02), a chanceler federal alemã, Angela Merkel, deu à emissora de TV de direito público ZDF a sua primeira entrevista depois das negociações de coalizão. Será o caso de louvar essa apresentação dela ou de ficar pasmo? Merkel vem de uma semana ímpar, tendo fechado com o Partido Social-Democrata (SPD) uma aliança em que sua União Democrata Cristã (CDU) abre mão de praticamente todos os postos relevantes no novo governo – fora a Chancelaria Federal, está claro.

Os ministérios do Exterior e das Finanças ficam para o SPD, embora os democratas-cristãos tenham sido os inegáveis vencedores das eleições legislativas de setembro último. Na verdade, foi um êxito espetacular para os social-democratas – o que, no entanto, não os impede de se digladiarem em público.

Jens Thurau é jornalista da DW
Jens Thurau é jornalista da DW

Tampouco a CDU está satisfeita. Chovem à condução das negociações por Merkel críticas de uma virulência rara, numa legenda para a qual lealdade a seus líderes e, mais ainda, para com sua chanceler federal faz parte do código genético.

E agora vem Merkel e diz algumas frases de admirável clareza: só à custa de algumas concessões muito dolorosas ao SPD ("também para mim") foi possível chegar a um consenso. "Por 12 horas só falamos da distribuição de pastas", conta, com certa indiscrição, e dando a impressão de ter acompanhado a coisa toda praticamente de fora.

Quase en passant, descarta todos os debates histéricos em seu partido, inclusive as especulações sobre o que virá depois dela: Merkel pretende permanecer na Chancelaria Federal por quatro anos completos, e não tem a menor intenção de entregar a presidência da CDU.

Pelo menos a líder tomou conhecimento de que em seu partido correm boatos. Portanto ela conhece os correligionários jovens, sobretudo conservadores, como Jens Spahn ou Julia Klöckner, que desde já reivindicam renovação e um perfil definido, depois de todos os torturantes anos em que Merkel, a rigor, praticou política social-democrata.

Falando por alto, a premiê se declara agora disposta a considerar os "jovens selvagens" na distribuição de postos no novo governo. Já era sabido que Klöckner tinha chances, por exemplo, no Ministério da Agricultura. Mas essa admissão da líder já bastou para provocar júbilo nas alas da Jovem União. Tão fácil assim é para Merkel trazer os seus para o seu lado. Ou, dito de outra maneira: o poder dela realmente ainda é tão grande assim.

Por mais sem graça que a atuação de Merkel possa parecer, ninguém de fora da Alemanha compreenderia se, mais uma vez, a chanceler federal não conseguisse constituir governo. E os mortalmente feridos social-democratas, quase enlouquecidos pela catástrofe eleitoral e as intrigas internas, precisavam mesmo tirar o máximo de vantagem, a fim de convencer os seus afiliados a sequer aceitarem a coalizão.

Portanto Merkel cede até o limite da dor, e mais além. Assim são as coisas, sinaliza sua estoica expressão facial. Essa mulher tem sangue frio! Tem mesmo, e já provou isso centenas de vezes.

Naturalmente há o perigo de que ela exagere com essa tranquilidade e frio realismo. Mas eu não me espantaria se, mais uma vez, o "método Merkel" funcionar: com grande sofrimento, o SPD diz "sim" para a "grande coalizão", os ânimos se acalmam, a premiê talvez passe a dialogar mais do que de costume com seus críticos, e, em troca, continua sendo o que é: chefe de partido e de governo por quatro anos.

Sinceramente: essa é a variante mais provável, ou não? Não é muito excitante, mas bem melhor do que o grande caos chamado "novas eleições".

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