Institutos de opinião israelenses concordam que nunca foi tão difícil prever o resultado de uma eleição parlamentar como desta vez. Como não se podem divulgar prognósticos nos últimos três dias antes da votação, desde a sexta-feira passada ficou ainda maior a incerteza em relação ao resultado do pleito desta terça-feira (09/04) – para o país, a região e o mundo.
Especialmente levando em conta o que a última pesquisa de opinião apontou: ambos os candidatos estão quase empatados, com uma pequena vantagem para os direitistas em torno do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
De qualquer forma, a incerteza foi companheira assídua desta campanha eleitoral, começando pela definição das diversas alas: em torno do Likud, de Benjamin Netanyahu, se encontram vários pequenos partidos nacionalistas ou ortodoxo-religiosos. Todos precisam superar a cláusula de barreira de 3,25% dos votos para se qualificar como parceiro de coalizão com a maior legenda conservadora israelense.
O mesmo acontece no lado oposto. O novo partido Azul e Branco, demonizado por Netanyahu como um "perigo de esquerda", não poderá, de forma alguma, governar sem parceiros. A maioria deles, no entanto, está lutando para atingir o mínimo de 3,25% da preferência dos eleitores.
A relação final de poder nos 120 assentos do Knesset, o Parlamento israelense, vai depender totalmente do desempenho desses pequenos partidos, porque os mandatos não concretizados dos grupos que fracassaram na cláusula dos 3,25% serão compartilhados entre as demais legendas.
E os dois partidos árabe-israelenses, que certamente estarão representados no Knesset, estão fora de questão como parceiros de coalizão com o Azul e Branco. O que mostra mais claramente quão pouco essa nova legenda, liderada pelo ex-chefe de gabinete Benjamin "Benny" Gantz, se difere do direitista Likud.
Verdadeiras diferenças políticas ou ideológicas não foram tratadas seriamente durante a campanha eleitoral. Netanyahu achincalhou e insultou a concorrência, chamando-a de um perigo para Israel: assim, Gantz não só foi acusado de adultério, espalhou-se também o boato de que o Irã havia interceptado o telefone celular dele e tido acesso a informações secretas.
Ao mesmo tempo, Netanyahu brilhou como um estadista que circula com as grandes figuras em Washington e Moscou, e por isso o destino do país estaria entregue em boas mãos. Principalmente o presidente americano, Donald Trump, está facilitando a vida do político de direita israelense.
Já há bastante tempo, Trump vem coordenando a sua política em relação ao Irã com Netanyahu, a quem ajuda com a transferência da Embaixada dos EUA para Jerusalém e com o anúncio, pouco antes da data das eleições, de que Washington agora reconhece a reivindicação de Israel sobre as Colinas de Golã, ocupadas desde 1967.
Os críticos de Netanyahu o chamam muitas vezes de "Trump de Israel" e isso deve ter subido à cabeça de "Bibi", como ele é popularmente conhecido no país: três dias antes da eleição, ele anunciou casualmente que, depois do pleito, pretende trabalhar para anexar pelo menos partes da Cisjordânia.
Como aconteceu com a anexação das Colinas de Golã, em 1981, isso também seria uma violação do direito internacional. Mas por que "Bibi" se importaria com isso – já que conta com um apoio tão maciço de Washington?
Também nesse ponto, não se viu nenhum protesto verdadeiro por parte do Azul e Branco: nenhum assentamento judaico será dissolvido na Cisjordânia, mas uma anexação não está planejada, afirmou o partido. Ou seja, continua a incerteza política em que essas áreas se encontram desde 1967, algo que também não mudou com os Acordos de Paz de Oslo, que renderam três prêmios Nobel.
Mas o que a anexação implicaria seria o fim da ideia internacional até então perseguida de um acordo de paz. O jornal israelense Haaretz já fala do "coveiro da solução dos dois Estados". Tudo isso teria consequências imprevisíveis muito além do Oriente Médio.
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