Derrotar o EI exige quebrar seu poder de atração
10 de março de 2015Kobane, na Síria, foi reconquistada, e a cidade iraquiana de Tikrit pode estar prestes a cair após a conquista do lugarejo vizinho de Al-Alam. Notícias como essas alimentam a esperança de que o "Estado Islâmico" (EI) esteja perdendo força e possa ser vencido militarmente num futuro próximo.
Há ainda outros sinais: o EI está caçando desertores. Acredita-se que a milícia terrorista tenha matado 30 correligionários por terem fugido do "inimigo" – um fenômeno típico de tropas de combate que se veem em dificuldade, afirmam especialistas.
Em segundo lugar, com o ataque de unidades curdas a instalações petrolíferas ocupadas pelo EI, nas imediações da cidade iraquiana de Kirkuk, paira sob o EI a ameaça de ser privado de uma importante fonte de dinheiro.
Em terceiro lugar, a destruição aparentemente cega de antigos sítios culturais pelos jihadistas pode ser interpretada como um ato de desespero. Justamente porque a batalha parece perdida, a intenção é deixar o maior rastro possível de destruição.
No entanto, todos esses sinais e indícios também podem ser interpretados de maneira diferente: o EI pode até estar recuando em partes da Síria e do Iraque – mas e sua crescente influência na Líbia, onde o grupo massacrou dezenas de cristãos egípcios há poucas semanas? E como fica a situação no Sinai, onde o Exército egípcio não consegue conter um braço do EI na região? E a nova aliança ideológica entre o EI e a organização terrorista africana Boko Haram, divulgada por ambos como êxito próprio? E, principalmente, é possível vencer o EI, enquanto o ditador da Síria, Bashar al-Assad, continuar bombardeando áreas residenciais, e enquanto o ódio mútuo entre xiitas, sunitas e curdos permanecer sem solução no Iraque?
Infelizmente, ainda é muito cedo para falar do fim do EI. Todos os problemas políticos que levaram ao seu surgimento ainda existem. Isso não se aplica somente à guerra na Síria e à insuficiente inclusão dos sunitas no Iraque, mas também à situação econômica e política desoladora e frustrante em quase todos os países árabes, principalmente para as gerações mais jovens.
Nesse contexto, ainda mais difícil de vencer é o intocado poder de sedução, o repulsivo fascínio que, do ponto de vista dos seguidores do EI, advém justamente das encenações brutais e do implacável estilo belicoso do "Estado Islâmico". Afinal, é visível que o jihadismo proporciona a jovens muçulmanos desorientados, em todo o mundo, um sentimento de estar do lado certo numa batalha historicamente decisiva entre o "verdadeiro" islã e o "infiel" resto do mundo.
A matança desenfreada de adversários e reféns e sua representação midiática nas redes sociais satisfazem as fantasias de onipotência e aumentam a adrenalina. Por mais difícil que seja, para uma pessoa adulta e com boa formação, entender isso, esses jovens consideram o jihadismo sangrento e o colapso civilizatório a ele associado algo cool – isso cria uma "sensação" que eles não encontram em outro lugar.
Até agora, nem no mundo islâmico nem na Europa foi encontrado um instrumento adequado contra isso. As sociedades árabes são social e civilizatoriamente tão inflexíveis e sofrem tanta pressão econômica que estão praticamente de mãos atadas. Após o fracasso da Primavera Árabe, há pouca esperança de reformas políticas e sociais nessa região.
A Europa, por sua vez, olha perplexa para o crescente número de adeptos da Jihad e se debruça sobre bairros problemáticos nas periferias de suas cidades, passando a reivindicar uma maior integração dos muçulmanos, assim como o ensino do islã na rede pública.
Essa abordagem não está errada, mas é insuficiente. O impulso para reformas urgentes tem de partir do próprio islã, tanto de líderes religiosos do Oriente Médio quanto dos muçulmanos na Europa. Não se faz necessária somente uma nova compreensão do islã, que finalmente encontre uma conexão com a modernidade, mas também um islã que possa inspirar e dar sentido à vida de jovens muçulmanos – que dê a eles uma "sensação" para além do terrorismo e da violência.