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Opinião: Desastre político no Reino Unido

Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel
9 de junho de 2017

Theresa May convocou eleições antecipadas porque queria elevar a maioria conservadora no Parlamento. Porém, acabou com menos assentos do que antes. Foi um erro de cálculo incrível, opina Barbara Wesel.

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Theresa May
Confiante, Theresa May começou a campanha eleitoral sob o mantra "forte e estável"Foto: Reuters/T. Melville

Theresa May estava muito confiante de sua posição. Ela queria um mandato para formar um governo forte e conduzir seu país, em caso de dúvidas, por duras negociações sobre o Brexit. "Forte e estável" tornou-se o mantra de sua campanha eleitoral. Em vez disso, parece que ela provocou seu próprio declínio. Os eleitores britânicos mostraram-lhe o dedo do meio e mergulharam o país numa crise política profunda. 

Alguém ainda se lembra dos presunçosos conservadores que, antes destas eleições, sonhavam em ter uma maioria de 150 ou até mesmo 200 assentos no Parlamento? E que previam a total destruição do Partido Trabalhista? Mais uma vez foi mostrado que todas as pesquisas podiam ir pro lixo e que os eleitores tinham outras ideias. Eles não se deixam pressionar por antigos padrões de votação e mudam de campo rapidamente.

Esta deve ter sido a pior campanha eleitoral que um político britânico realizou em décadas. May tratou os britânicos como crianças pequenas cujo futuro pode ser ditado. Ela se recusou a participar do debate público, evitou qualquer discussão com os eleitores e repetiu continuamente a cada pergunta os mesmos velhos termos e frases. Sua repetição robótica de slogans vazios lhe rendeu o apelido de "Maybot".

Nas últimas semanas, repentinamente, os britânicos conseguiram perceber sua primeira-ministra fora de seu protegido papel. Ela se mostrou presa em seu pequeno grupo de pessoas confiáveis, não confiando em ninguém e sendo incapaz de ouvir. May parecia insensível, desligada e sem compreender as preocupações reais das pessoas. E essas preocupações dizem respeito a educação, sistema de saúde e financiamento dos cuidados aos idosos.

Barbara Wesel Kommentarbild App *PROVISORISCH*
Barbara Wesel é correspondente da DW em Bruxelas

Seu insultado "imposto da demência" – proposta de expropriação voltada para idosos que precisam de assistência – e sua posterior mudança de rumo sobre essa questão prejudicou enormemente May. É incompreensível como alguém pode fazer uma proposta tão absurda em uma campanha eleitoral. May deve ter uma propensão à autodestruição.

Ao contrário de May, Jeremy Corbyn fez uma campanha muito melhor do que o esperado. No Parlamento, suas aparições pareciam muitas vezes duras, mas ganharam emoção nas conversas com eleitores, em rodas de discussões e nos palcos do país. Corbyn apareceu como um político com os pés no chão, convencido de seu programa e apaixonado. O político – cujo próprio partido havia sinalizado que não seria adequado para o cargo de primeiro-ministro – se tornou, de repente, um vencedor.

Os votos dos jovens ajudaram o Partido Trabalhista. Eles acompanharam uma campanha online inteligente e deram ao Reino Unido seu próprio efeito Bernie Sanders: como nos EUA, um grande número de jovens votou nos esquerdistas, depositando esperança em suas promessas sociais.

Esta eleição mostrou que o Reino Unido está profundamente dividido: entre norte e sul, cidade e campo, jovens e velhos, pró-Brexit e pró-Europa. Eles tomam sua decisões políticas de acordo com seus próprios critérios – e a antiga lealdade, tradições regionais e laços sociais na política britânica desapareceram.

O problema é que o sistema britânico não foi feito para esse tipo de situação política. Em outros países, partidos iriam formar agora coalizões. Mas, ao contrário disso, no Reino Unido, um Parlamento sem maioria é um beco sem saída.

Como o partido relativamente mais forte, os conservadores podem formar de início um governo minoritário. Mas a questão é: quão decisivamente eles poderão realizar as negociações do Brexit? Provavelmente as conversações terão que ser adiadas até que um governo seja formado.

Este é o maior desastre político para os conservadores. May trouxe isso voluntariamente para si mesma e seu partido. O resultado é o extremo oposto de "forte e estável". A situação é caótica, e o futuro, incerto. É o segundo erro de cálculo catastrófico de um primeiro-ministro britânico, depois de David Cameron e seu referendo sobre o Brexit. O que está por vir, Reino Unido?