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Um ano após a eleição

12 de junho de 2010

Um ano após a controversa reeleição de Ahmadinejad à presidência do Irã, Jamshedd Faroughi, editor-chefe da redação iraniana da Deutsche Welle, analisa o que restou da onda de protestos oposicionistas no país.

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O que foi realmente o Movimento Verde? Apenas à primeira vista ele foi uma onda de protestos contra o presidente ultraconservador. Na verdade, foi um movimento pela liberdade de uma sociedade jovem e cosmopolita, que sob o jugo dos aiatolás tinha perdido toda a ilusão de uma vida feliz e estava à procura de uma saída para a má administração da teocracia. Os protestos foram o sinal de vida de uma sociedade com um passado perdido, um presente chato e sem perspectivas de futuro.

Não foi uma revolução, nem uma rebelião às cegas. Foi a revolta corajosa pela liberdade, democracia e uma vida melhor, portanto, ambições alimentadas pelos iranianos por um longo tempo. São precisamente as exigências da Revolução Constitucionalista de 1905, os objetivos da Revolução Islâmica de 1979.

Só que com uma diferença: desta vez, a força motriz da revolta não foi mais apenas a utopia de uma vida melhor, mas visões claras e expectativas realistas. O ano que se passou foi marcado por uma quebra de confiança, uma crise de legitimidade do governo e por uma indescritível brutalidade.

Após a controversa eleição presidencial, os detentores do poder no Irã fizeram de tudo para deter os protestos em massa, com todos os meios. As manifestações pacíficas foram violentamente reprimidas, os presos políticos foram maltratados, torturados e alguns até executados. Tudo isso fez com que não houvesse mais manifestações de grande porte nos últimos meses. Uma eventual reconciliação entre a sociedade e o Estado tornou-se assim cada vez mais improvável.

O remédio mais eficaz contra o anseio por democracia e liberdade não é a violência, mas a vontade de ir ao encontro da população e de atacar os problemas sociais pela raiz. Mas o governo de Ahmadinejad faz justamente o contrário.

A má gestão da economia, a crise daí resultante e a corrupção desenfreada agravam ainda mais a insatisfação da população. Mesmo muitos conservadores não se identificam mais com as políticas econômica e de relações exteriores de Ahmadinejad.

Também não é mais segredo o conflito entre o Parlamento e o governo. A isso somam-se as consequências do agravamento das sanções e a crescente pressão da comunidade internacional contra Teerã, devido às constantes violações dos direitos humanos.

Um ano se passou, mas ainda não há trégua à vista. A luta pelo poder continua inabalável. É completamente incerto quanto tempo isso ainda vai durar. Só uma coisa é certa: apesar de toda a violência e o alto derramamento de sangue dos últimos 12 meses, a sociedade iraniana já deu um passo gigante em direção a seu objetivo democrático.

Autor: Jamshedd Faroughi (rw)

Revisão: Soraia Vilela