A terça-feira (05/07) era para ter sido o dia da libertação para Hillary Clinton, o dia em que, após meses de inquéritos, o FBI (a polícia federal americana) finalmente anunciaria que não recomenda ao Departamento de Justiça abrir ação contra a ex-secretária de Estado e atual pré-candidata à presidência dos Estados Unidos.
Foi a conclusão à qual o diretor do órgão, James Comey, chegou, ao fim de sua atipicamente detalhada declaração. Entretanto Hillary não se livrará tão rapidamente do escândalo dos e-mails em sua campanha eleitoral. Pois o que permanecerá na memória dos americanos será, acima de tudo, a severa crítica de Comey – a qual, com todo direito, os adversários da democrata vão remoer repetidamente nos próximos meses até a eleição.
Tem potencial de ainda representar um perigo sério para Hillary a constatação da comissão de investigações do FBI de que ela e sua equipe agiram de forma "extremamente negligente", e que "qualquer um numa posição de responsabilidade deveria saber que não se pode enviar e-mails sensíveis através de diferentes contas privadas".
Desse modo fica consideravelmente enfraquecida aquela que é supostamente a maior vantagem de Hillary Clinton sobre o oponente republicano Donald Trump: de que as experiências políticas dela a qualificam como uma melhor presidente. De que adianta toda a experiência, se, no fim, a pessoa age de maneira alarmantemente negligente?
Para os opositores dos Clinton, porém, deverá pesar ainda mais o fato que o casal de políticos basicamente joga sempre segundo as próprias regras e acaba saindo sempre impune. Para muitos, esta é mais uma prova de quão injusta é a política de Washington. Com típico instinto de ganhador, Trump sintetizou esse sentimento em sua primeira reação ao parecer do FBI: "Por muito menos, outros já foram condenados. Muito, muito injusto."
Os estrategistas podem achar muito esperto o presidente Barack Obama ter aderido à campanha de Hillary exatamente um dia após a divulgação do relatório do serviço secreto. Porém o resultado, agora, poderá ser exatamente o contrário.
Para muitos, as imagens dos dois democratas juntos podem ser mais uma prova de quão unidos os poderosos de Washington trabalham, do FBI e o Departamento de Justiça até o próprio presidente. E que só uma autêntica figura de fora, independente, corajosa e forte, é capaz de dar fim a esse sistema corrupto. Pelo menos a seus próprios olhos, Donald Trump é o único a que tal descrição se aplica.
A jornalista Ines Pohl é correspondente da DW em Washington.