Em novembro houve um confinamento parcial, em dezembro veio um pouco mais de confinamento, porém com exceções. Agora, em janeiro, todos constatam, consternados, que o número das infecções continua alto demais e que é preciso corrigir.
Foi errado só fechar a gastronomia, o comércio e uns outros setores, mas deixando abertas escolas, jardins de infância e a maior parte da economia, e, de resto, apelar à população para por favor, por favor, respeitar as restrições de contatos. Isso não funciona.
Continua sendo demasiado o número dos que se contagiam com o coronavírus, e mais ainda dos que morrem de covid-19 ou com ela. Que desastre! E, ainda mais, de fabricação caseira, com duas causas principais.
Prevenção de infecções é assunto estadual
De um lado está o federalismo alemão. Em princípio, ele é uma coisa boa: a Alemanha se compõe de 16 estados federados; as tarefas, mas também o poder, são distribuidos em diversos níveis, chegando até as municipalidades. Isso garante diversidade regional, fortalece a democracia e evita o abuso de poder.
Numa crise, contudo, é uma grande desvantagem todos quererem codeterminar, e decisões dependerem de se, no fim das contas, 16 "príncipes e princesas" locais, com seus interesses regionais e vaidades políticas, conseguiram se arranjar – ou, justamente, não.
Como no país a prevenção de infecções é assunto estadual, a chefe do governo federal só pode apelar, recomendar e advertir, mas não determinar. Contudo precisamente isso seria necessário em crises tão grandes e abrangentes, que afetam toda a república.
Aí o federalismo bate em seus limites. Em caso de dúvida, a federação deveria poder assumir a liderança e impor regras uniformes. Isso não significa excluir os estados completamente das decisões políticas.
Apelar não basta
Uniformidade, transparência, consequência são as precondições para os cidadãos aceitarem e obedecerem regulamentos. Em vez disso, a esta altura quase ninguém sabe o que vigora onde e por quê. E, para citar só um exemplo, por que se pode agir em Wiesbaden, no estado de Hessen, de modo diferente que em Mainz, a apenas poucos quilômetros, na Renânia-Palatinado.
O clima na sociedade está cada vez mais exasperado, e não melhorará diante das vacinações que só progridem devagar. Aqui, a política precisa melhorar. Não basta querer guiar a população através da crise com apelos à razão. Ninguém é racional sempre e em todo lugar.
Os seres humanos se movem dentro dos limites do que é possível e praticável, e só raras vezes se decidem voluntariamente pela renúncia. É preciso declarações claras e a vontade de também aplicar proibições. Ou seja, mais dureza.
Perigo recalcado
No começo, tinha-se simplesmente medo do vírus. Isso resultou em retiro, quase não havia encontros, ficava-se em casa. No primeiro lockdown, no início de 2020, as ruas e estradas estavam em parte desertas.
Contudo faz parte da natureza humana se acostumar aos perigos, até certo ponto recalcar a ameaça real e agir com leviandade. Se na Páscoa a maioria ficou só em casa, no Natal e Ano Novo o quadro foi bem diferente, movidos pelo desejo de ter de novo mais contatos e também por muitos estarem simplesmente fartos da pandemia e quererem de volta sua antiga vida.
Acima de tudo, muitos pais simplesmente haviam chegado ao fim de seus nervos e sua paciência – sobretudo quem mora num apartamento pequeno e cujos filhos não puderam desafogar a necessidade de movimento na estação fria. É claro que esses aproveitam toda oportunidade para sair. Apelos à razão não adiantam, nesse caso.
Não se deve esquecer os numerosos trabalhadores que não tiveram alternativa senão circular diariamente. Pois grande parte da economia continua funcionando e força os cidadãos a irem às empresas, onde forçosamente têm contatos, assim como nos ônibus e trens com que têm que se deslocar.
Nesse ponto, nada vai mudar, pois a economia segue excluída do confinamento agora prolongado até o fim de janeiro. No entanto, a política poderia impor trabalho de casa em todos os setores em que tal seja possível, e não apenas apelar ao empresariado para, por favor, deixar seus funcionários, se possível, trabalharem de casa.
Até a Páscoa?
Para muitos, provavelmente, não haverá mesmo outra opção nas próximas semanas. Escolas e jardins de infância não deverão reabrir antes de fevereiro, e aí, só gradualmente e dependendo do progresso dos contágios.
Isso está certo. Pois se escutou por tempo demasiado o mito de que as escolas seriam locais seguros, sem relevância para a pandemia. O fato científico de que crianças e adolescentes se contagiam com o coronavírus com a mesma frequência que adultos demorou demais para penetrar na consciência da política.
No fim de janeiro, vamos ver se o lockdown alemão mais rigoroso terá mais efeito do que anterior, ou se tampouco bastou para conter a propagação descontrolada do vírus.
Isso seria fatal, para o país, para a população, a economia. Um dono de restaurante de Berlim comentou recentemente que ele e seus colegas já desistiram da esperança de um fim do confinamento para breve. Ele está certo de que antes da Páscoa não haverá uma reabertura. Que desastre!
Sabine Kinkartz é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.