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Michel Houellebecq, o eterno provocador

Jochen Kürten
8 de janeiro de 2019

Assim como todo novo romance do francês, seu novo livro gera polêmica. Com isso, ele coloca a literatura em foco. Ao mesmo tempo, porém, corre o perigo de se transformar em palhaço político, opina Jochen Kürten.

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Michel Houellebecq e cópias de seu romance "Sérotonine"
Quem ainda leva Houellebecq a sério?Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Camus

É, isso ainda acontece, sim: é lançado um livro, um romance, até, e todo mundo o antecipa com alegria – ou se exaspera, ou pelo menos fica boquiaberto. Em tempos de revolução digital, não se trata de fato corriqueiro: todo ano durante a Feira de Frankfurt ou por ocasião de outros eventos ouvem-se queixas de que as pessoas não leem mais ou muito menos, e a juventude nem pensar.

O francês Michel Houellebecq é há anos um dos pesos-pesados literários. Poucos escritores causam com suas publicações tanta celeuma, tiragens tão altas e interesse midiático. Até os autores de best-sellers americanos competem com dificuldade – o que não é pouco, num mundo dominado pelos lançamentos em inglês e suas traduções.

Cada novo romance do francês gera um terremoto de médias proporções nas redações de cultura dos jornais, e às vezes ele chega até o noticiário de política. Basta pensar no romance Submissão, lançado justamente no dia do atentado ao semanário Charlie Hebdo, em Paris. Na imprensa sensacionalista, Houellebecq está, de qualquer forma, presente, em grande parte devido a sua postura pública, em geral excêntrica e por vezes provocadora.

Nenhum outro autor causa tanta polêmica com um texto de ficção. Na Alemanha, já vão longe os tempos em que um Günter Grass abalava a nação. Em comparação, os atuais autores de best-sellers como Daniel Kehlmann não passam de assunto para os cadernos culturais mais sofisticados.

Portanto se constata que a literatura impressa e acondicionada entre duas capas ainda é capaz de movimentar. Romances como o novo Sérotonine  de Houellebecq são lidos e discutidos, apresentações em público de autores desse gabarito se transformam em grandes espetáculos midiáticos, também na era digital. Essa é uma boa notícia.

Porém o que isso diz sobre Michel Houellebecq e sua arte de romancista? Aí é preciso diferenciar. Mas também o que pode ser diferente, com esse autor? Excepcionalmente, que ele próprio tenha a palavra neste artigo de opinião. Na página 279 da edição alemã de seu novo romance, ele escreve, através do narrador na primeira pessoa:

"De fato, nesse ponto meu comportamento começa a escapar de mim, me é difícil conferir-lhe um sentido, e ele começa nitidamente a se afastar da minha moral genérica e, de resto, também de uma razão genérica que até então eu acreditava compartilhar."

Esse é o apelo, mas também o problema desse autor: suas figuras (e assim, claro, também seu criador) estão sob o signo da provocação, do questionamento de todas as afirmativas, de teses contraditórias entre si. Um comportamento sem sentido nem razão – possivelmente talvez até se trate de um mero jogo literário.

A literatura não precisa ser clara e definida, ela pode e deve ser contraditória e estimular a reflexão. Naturalmente Houellebecq faz isso, por isso é um grande prazer ler cada um dos romances dele. No entanto, ao provocar simplesmente por provocar, ao jogar incessantemente um jogo irônico com a própria imagem e contradições, pouco a pouco ele perde também sua credibilidade. Não como literato, mas como intelectual contemporâneo digno de ser levado a sério.

Pouco tempo atrás, Houellebecq definiu Donald Trump como um dos melhores presidentes que jamais viu. Ele falou a sério? Com o escritor francês, não se sabe. Há tempos muita gente não leva mais o presidente americano a sério. Pode ser que o mesmo se aplique a Michel Houellebecq.

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