Na luta pelo clima, é preciso conversar
20 de dezembro de 2019A situação está desgovernada. Não há diálogo entre os adversários. Um debate civilizado não é mais possível. Existe apenas a favor ou contra. Justo ou injusto. Bom ou mau. Entre os opostos, nada há além de um hiato. O fim do mundo está próximo – com certeza, pois simplesmente não há tempo para conversar. É preciso agir. A emergência se espalhou por todos os lugares.
Sem dúvida: o clima é um assunto importante, trata-se do derretimento de geleiras, de regiões castigadas pela seca, do aumento do nível do mar, de ursos polares morrendo de fome.
O que nunca se fala: sobre muitas coisas que já estão acontecendo há muito tempo, para que menos CO2 seja lançado na atmosfera. Para que as indústrias poluam menos, para que os carros emitam menos poluentes ou até sejam movidos a motor elétrico. Na melhor das hipóteses, fala-se sobre isso como "maquiagem verde", como uma "folha de figueira", uma estratégia de marketing ecológico.
Apenas alguns exemplos, escolhidos aleatoriamente: há cerca de dez anos, no fabricante de aços planos Salzgitter, houve um projeto chamado Eficiência Energética. Desde então, um milhão de toneladas de CO2 foram evitadas e gastou-se 3.300 terajoules a menos de energia por ano – uma quantidade que pode abastecer 55 mil domicílios.
Ou no caso da Washington State Ferries: a segunda maior operadora de balsas do mundo está em processo de conversão de sua frota – que até agora usava 75 milhões de litros de diesel anualmente – para energia de bateria. Por quê? Porque o governador do estado americano de Washington aprovou uma lei nesse sentido.
Mas o chefe da operadora de balsas também diz: não se está fazendo isso apenas porque o governador mandou, mas se trata simplesmente de uma boa ideia, mesmo que não se seja ambientalista. Menos ruído, menos sujeira e, em algum momento, haverá economia de dinheiro.
Recentemente, durante a conferência climática em Madri, outras 180 empresas se comprometeram com metas ambiciosas para reduzir suas emissões e alcançar a neutralidade climática o mais tardar até 2050.
E essas não são, de modo algum, pequenas empresas, mas grupos bem conhecidos, como o fabricante de produtos de cuidado pessoal Beiersdorf, a maior cervejaria do mundo Ambev e joint venture de empresas aéreas International Airline Group (British Airways, Iberia), a terceira maior companhia europeia de aviação.
Assim, o número de empresas que aderiram à aliança Business Ambition for 1,5˚C – Our Only Future (ambição empresarial por 1,5°C – nosso único futuro) praticamente dobrou desde sua fundação em setembro.
É claro que também acontecem coisas estranhas que não só deixam desesperados os ativistas, mas também os realistas: basta olhar para o desastre da transição energética alemã. Embora a parcela de energia renovável tenha aumentado significativamente na geração de eletricidade, isso também (segundo dados da Corte Federal de Auditores da Alemanha) custou até hoje 160 bilhões de euros.
No entanto, praticamente não existe mais indústria solar na Alemanha e a situação no setor de energia eólica é igualmente sombria. Berlim prefere discutir sobre a distância mínima entre as turbinas eólicas e a aglomeração urbana mais próxima, enquanto nossos vizinhos franceses estão pensando em construir seis novas usinas nucleares.
Mada nada realmente está acontecendo, como os ativistas climáticos não se cansam de dizer? Ou não é o caso de temas como sustentabilidade e compatibilidade ambiental já terem sido assumidos por muitas empresas? Porque se trata – certo! – de estratégias de vendas? Não seria preciso dar uma olhada no que os líderes do movimento climático realmente estão querendo?
Luisa Neubauer, por exemplo, tornou-se conhecida na Alemanha como uma espécie de Greta Thunberg do país, embora seja alguns anos mais velha do que a estudante sueca; ou Carola Rackete, que se tornou internacionalmente conhecida por ter resgatado refugiados como capitã do navio Sea Watch 3. Ambas as mulheres escreveram livros, o de Rackete se chama Apelo à última geração; o de Luisa Neubauer, Do fim da crise climática.
Os livros são bem objetivos. Tratam de proibições e punições. A destruição da natureza deve ser tratada como um crime contra a humanidade. Por outro lado, não há nada neles sobre a liberdade do indivíduo. Afinal, não se pode deixar que todo indivíduo seja a favor ou contra a proteção do clima. E Carola Rackete respondeu numa entrevista: por meio de tudo "o que fazemos e por meio de tudo o que não fazemos, apoiamos o atual sistema". Portanto, a desobediência civil é "muito necessária".
Não, o que está em jogo aqui é algo muito maior: é a luta contra o sistema econômico existente, é a luta contra os livres mercados, contra o capitalismo. Quem se opõe a isso, quem possivelmente discordar, não pode de forma alguma estar com a razão. Somente aqueles que defendem a proteção climática radical, que se apropriaram da verdade, pertence ao rol dos bons.
Qualquer pessoa que defenda tão veementemente uma economia ecologicamente planejada deve dar uma olhada na história recente. O estado desastroso do meio ambiente na antiga Alemanha Oriental pode servir de exemplo para demonstrar a incapacidade dos sistemas econômicos planejados quanto à sustentabilidade e proteção ambiental.
Neste clima – desculpe! – conturbado, nenhum debate objetivo é possível. Mas temos que discutir – principalmente entre as diferentes gerações – como podemos resolver esse conflito. Uns, com sua experiência de vida; outros, com sua impaciência. Com cenários apocalípticos, com conversas sobre o fim do mundo, isso não será bem-sucedido, mas vai intensificar, por outro lado, ainda mais a rejeição.
No entanto, precisamos das ideias da nova geração, da leveza, da abertura e da curiosidade. Mostre-nos que vocês podem fazer melhor do que nós. Mas, por favor, levem-nos também um pouco nesta jornada.
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