1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Política monetária

7 de outubro de 2010

As maiores economias do mundo apostam em um enfraquecimento de suas moedas. As exigências são as mesmas em qualquer lugar: fortalecer a economia nacional. Uma mistura perigosa para a economia mundial.

https://p.dw.com/p/PYmf

"Guerra monetária" é um termo horrendo que, há alguns dias, voltou à tona. Foi o ministro brasileiro da Fazenda quem usou essa terminologia pela primeira vez. E, logo a seguir, os Bancos Centrais e políticos em torno do globo já evocavam um cenário que lembra a terrível crise dos anos 1930.

Naquela época, em consequência da Grande Depressão, cada país agia à sua maneira, o que levou a um caos monetário e ao desmoronamento do comércio mundial. Foi exatamente isso o que se quis impedir, há dois anos, quando a atual crise econômica eclodiu: mais que rapidamente, as 20 maiores economias do mundo trataram de se reunir, acertaram as regras e medidas que regulamentam o comércio internacional, injetaram dinheiro no mercado e apresentaram programas gigantescos de apoio à conjuntura.

Tudo isso foi bom e certo – através dessas medidas, achou-se também que o G20 seria o grêmio adequado para tratar dos problemas da economia mundial. Mas tudo indica que não é bem assim.

Apenas palavras vazias do G20

Essa guerra monetária, agora reacendida, pode destruir com um só golpe os primórdios modestos do G20. Em questão de política monetária, uma coisa fica clara: não se trata de 20 países que se unem, mas sim de 20 nações que, a princípio, têm em vista seus próprios interesses nacionais.

Isso mostra que as promessas do G20 de abdicar, no futuro, do protecionismo, não valem obviamente nada. No entanto, se esse clube poderoso fracassasse agora na questão monetária, o que não é de todo improvável, o mundo iria então desmoronar em uma crise, frente à qual o que passamos até agora iria parecer brincadeira de criança.

Velhos argumentos mantêm-se atuais

É claro que todos conhecem os fundamentos do problema: quanto mais frágil a moeda, mais competitivos são os produtos do país em termos de exportação. Os chineses praticam isso no mundo há anos e não se deixam desviar ou convencer por ninguém.

E eles têm o melhor dos argumentos a seu lado, um argumento que vem significativamente dos EUA: "O dólar é a nossa moeda, mas é problema dos outros". Foi assim que, no início dos anos 1970, o então secretário do Tesouro dos EUA, John Connally, descreveu a postura dos norte-americanos em questões de câmbio monetário. E até hoje nada mudou neste sentido.

O Tesouro norte-americano imprime dinheiro ininterruptamente, o que enfraquece o dólar e pode ajudar a aquecer a economia nacional. Isso já tira, de fato, o efeito da pressão de Washington sobre Pequim para que o governo chinês faça o favor de fortalecer sua própria moeda. Por outro lado, a China deveria, enfim, se comportar de forma a fazer jus à sua posição de segunda maior economia do mundo. E disso faz também parte um câmbio monetário flexível.

Brincadeira perigosa

No entanto, não é só o yuan chinês que está desvalorizado, mas também o won sul-coreano e o peso argentino. Em todos os lugares, os Bancos Centrais interferem, a fim de cessar a valorização da moeda nacional. E todos são países do clube do G20. Mas, no momento, o círculo destes 20 é o único fórum onde esse problema pode ser resolvido.

A política monetária precisa entrar para a pauta do dia, de preferência já no próximo encontro do grêmio, em meados de novembro, na Coreia do Sul. Um nova ordem monetária tem que ser implementada e o mais rápido possível. Trata-se de uma complexa empreitada e certamente ninguém tem uma solução universal à disposição.

Entretanto, se não for possível forçar um equilíbrio entre as moedas, que isso se dê, pelo menos, em certa escala, pois paira a ameaça de que a suave recuperação da economia mundial possa ser violentamente destruída depois da difícil crise.

Perigo para a Europa

Até agora, os europeus permaneceram na posição de espectadores. Mesmo assim, estão alarmados. Pois o euro, cuja extinção estava sendo profetizada no fim do primeiro semestre, no auge da crise da Grécia, exatamente esse euro ganha agora novas forças.

A política monetária dos vigilantes da moeda, nas torres de Frankfurt, aposta em um câmbio estável e em uma inflação mínima. Para as pessoas ali, simplesmente imprimir dinheiro está fora de cogitação.

Só que essa moderação pode transformar os países do euro nos perdedores desta guerra. Da mesma forma, não seria correto participar do perigoso jogo de desvalorização da própria moeda. Isso poderá talvez trazer efeitos positivos a curto prazo, mas, a longo prazo, leva à catástrofe. Um longo debate ainda está pela frente.

Autor: Henrik Böhme
Revisão: Carlos Albuquerque