Quando, por estes dias, não importa onde no mundo, chefes de Estado e de governo se encontram, o assunto sempre gira em torno de um homem que (ainda) nem mesmo está presente: Donald Trump, que em janeiro assumirá o mandato de 45° presidente dos Estados Unidos da América. Não faltam conselhos para o bilionário. Também no último fim de semana foi assim, durante a cúpula da Comunidade Econômica Ásia-Pacífico (Apec), em Lima.
Lá, o anfitrião, o presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, colocou o dedo em riste, advertindo o presidente eleito contra o fechamento dos mercados e fazendo um apelo em prol do livre comércio. Nem todo mundo em seu próprio país vê a coisa da mesma forma: em meados da semana passada houve protestos violentos contra o Tratado Transpacífico (TPP). O acordo de livre comércio já foi assinado e ainda deve ser ratificado, entre outros, pelo Parlamento em Lima. Mas o documento tem sido criticado, entre outras coisas, por ter sido negociado a portas fechadas. Reclamações que também são ouvidas na Europa quando se trata do planejado pacto de livre comércio entre Europa e Estados Unidos, o TTIP.
Para todos os adversários de tais acordos, tempos melhores estão chegando. Já no primeiro dia de seu mandato Trump quer sair do TPP. Durante a campanha eleitoral, ele não se cansou de deixar clara sua posição. O livre comércio é, para ele, "uma causa nobre como evento acadêmico", mas no mundo real "estamos numa guerra comercial com a China". Acordos similares com o Canadá e México (Nafta) deverão ser renegociados, e o TTIP, com os europeus, sequer deverá ser iniciado. E como os chineses (e mexicanos) são os culpados de todas as desgraças do mundo, eles serão punidos com drásticas taxas de importação.
Opositores da globalização em todo o mundo, uni-vos em torno deste homem!
Infelizmente, a coisa não é tão simples assim.
Primeiro: nem mesmo Trump pode anunciar da noite para o dia o fim da globalização e desarticular a economia mundial. Protecionismo e isolacionismo iriam mergulhar o mundo numa profunda recessão. E seus assessores em algum momento vão conseguir convencê-lo de que tarifas punitivas – digamos, de 35% – sobre importações provenientes da China tornariam esses produtos mais caros. E quem seria mais afetado? Certo: aquelas pessoas que não podem pagar por produtos caros. Talvez seus assessores olhem o TPP mais detalhadamente. Pois este é um acordo de livre comércio tido como um contrapeso à política comercial dominante da China, afinal os chineses não fazem parte do TPP. Sem o TPP, os chineses poderiam, por sua vez, levar adiante seu próprio acordo chamado, RCEP, planejado sem os EUA. E quem, como Trump, quiser aumentar tarifas de importação, inevitavelmente também terá que sair da Apec, cuja meta declarada é a redução de tarifas e de outras barreiras comerciais.
A resposta à questão se o livre comércio (ou opcionalmente: a globalização) é responsável por perdas de emprego nos países industrializados não é tão simples como sim ou não. Quando aço barato não é mais fabricado em Duisburg ou em Pittsburgh, mas em algum lugar na China, os trabalhadores de Duisburg ou de Pittsburgh perdem seus empregos. Mas cabe aos governos dar a essas pessoas uma perspectiva de futuro, através de educação, qualificação e uma mudança na estrutura econômica que faça sentido. O que está transformando o mundo do trabalho não é o livre comércio, mas a mudança tecnológica. Cada vez mais postos de trabalho migram do setor industrial para o setor de serviços. (Na Alemanha, essa tendência de desindustrialização, aliás, não é tão forte, e outros, como os britânicos, a reconheceram e agora falam num renascimento da indústria).
Mas aqui vai um plano para o novato na Casa Branca, já que corre por aí o medo do adversário do livre comércio Donald Trump e porque, caso ele coloque seus planos em prática, o mundo cairia numa guerra comercial e depois na desgraça: fora com todos os acordos de livre comércio bilaterais e regionais! (Isso agrada Donald Trump.) Pois esses acordos, sejam eles o Nafta, o TPP, o TTIP ou qualquer outro, têm uma coisa em comum: eles discriminam aqueles que não são incluídos. No caso do TPP, os chineses; no caso do RCEP, os americanos. E sempre os africanos. O que é necessário é um pacto de comércio global. A responsável por isso, a Organização Mundial do Comércio (OMC), quase chegou a um acordo mundial. Mas não deu em nada, também porque o declarado partidário do livre comércio Barack Obama não se empenhou realmente pela causa.
Então, senhor presidente eleito! Não seria essa uma boa ideia? Talvez não seja suficiente para o Prêmio Nobel da Paz, mas com certeza renderia novos postos de trabalho nos EUA. E isso é exatamente o que o senhor prometeu a seus compatriotas.