O mercado governa
8 de agosto de 2011Os líderes políticos dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia assistem impotentes à maneira como os anônimos mercados financeiros direcionam fluxos bilionários para as bolsas de todo o mundo e ditam as políticas fiscal e econômica.
Há tempos que o presidente Barack Obama, a chanceler federal Angela Merkel e o presidente Nicolas Sarkozy não agem mais, mas são empurrados. Merkel e Sarkozy procuram acalmar a situação com declarações desvalidas de que eles teriam, há menos de três semanas, tomado decisões maravilhosas na última cúpula do euro. Isso não ajuda mais em nada.
Os mercados financeiros, os investidores e gestores de fundos de pensão encontram-se num clima irracional de fim dos tempos. Na prática, os fatos econômicos e político-financeiros não mudaram nos últimos 14 dias, mas mesmo assim vende-se nas bolsas de valores o que ainda dá para vender.
O rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela agência de rating Standard & Poor's agravou ainda mais todo esse tumulto. A agência comprovou o que os mercados financeiros já sabiam há muito: que também o homem supostamente mais poderoso do mundo, o presidente norte-americano, é impotente na hora de enfrentar Wall Street.
Para os Estados Unidos, a obtenção de novos empréstimos vai agora se tornar mais difícil. Há possibilidades de uma reincidência de recessão, o que teria consequências para todo o mundo. A próxima onda da crise financeira e econômica mundial, que teve início em 2008, vem a nosso encontro.
Se a conjuntura econômica sofrer uma retração mundial, não haverá mais recursos estatais para programas de incentivo ao consumo e à produção: os principais países da zona do euro não estão mais em condições de contrair ainda mais dívidas.
O poder dos mercados financeiros é de dar medo. Se as especulações se voltarem agora contra a Itália, com a perda de confiança no Estado italiano, ou seja, se os títulos públicos do país se tornarem impagáveis, a zona do euro também não vai conseguir escapar.
As dívidas da Itália não podem ser assumidas por outros, uma injeção de liquidez é impensável. Caso isso acontecesse, até mesmo a Alemanha, que ainda conduz a Europa como locomotiva solitária da conjuntura, ficaria sobrecarregada. A União Europeia terá que se imbuir de medidas mais acirradas que as tomadas até agora, a fim de impressionar os mercados financeiros, que notoriamente determinam o caminho a ser seguido.
Chegou a hora de transformar os pacotes de ajuda num fundo monetário europeu decente, capaz de ajudar países em crise. Chegou a hora de dar à zona do euro um governo econômico digno deste nome. Chegou a hora de contar a verdade aos cidadãos europeus e dizer a eles que todos nós teremos de carregar as dívidas dos países da zona do euro com altas taxas de inflação.
Se Merkel, Sarkozy e companhia continuarem enrolando, o euro, como moeda comum, não terá mais salvação. Aí será apenas uma questão de tempo até que as agências de rating tirem a melhor nota, o A triplo, da França, do Reino Uido e até mesmo da Alemanha.
Pois a situação estrutural na França não é muito diferente da dos Estados Unidos. A Alemanha está aumentando suas dívidas públicas em velocidade recorde. É questionável se a União Europeia, o Grupo dos 7 países industrializados mais importantes ou o G20, com os emergentes a bordo, ainda serão capazes de fazer algo. A crise econômica mundial se aproxima, os mercados financeiros reinam e as agências de rating governam.