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Paciência dos alemães com a Grécia está no fim

Sabine Kinkartz (md)5 de janeiro de 2015

Saída dos gregos da zona do euro deixou de ser inimaginável para o governo alemão. Ao contrário, seria sinal forte para países avessos a reformas, como Itália e França, opina Sabine Kinkartz, da redação da DW em Berlim.

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Foto: DW/S. Eichberg

Política é um negócio difícil. Envolve poder, vantagens, interesses e, claro, dinheiro. Por trás de cada mão apertada, de cada sorriso, há uma segunda intenção. Isso ocorre também dentro da União Europeia. Quem pensa de outra forma está se iludindo.

A Grécia teve por muito tempo certeza de que seria socorrida. Não por simpatia e amizade, mas porque a ameaça de danos para o resto da comunidade era incalculável. Não havia alternativa à permanência de Atenas na zona do euro, afirmou certo dia a chanceler federal alemã, Angela Merkel, levando em conta o panorama econômico.

Por muitas razões, isso mudou. Por muitos anos, os parceiros europeus mantiveram a Grécia viva, sobretudo Berlim. Desde 2010, a Grécia recebeu dos credores internacionais dois programas de ajuda, num valor total de cerca de 240 bilhões de euros. Isso ajudou pouco.

As medidas de austeridade e as reformas impostas arruinaram o país. O desempenho da economia caiu em mais de 25%, a dívida nacional aumentou para quase 180% do Produto Interno Bruto (PIB). Um em cada quatro gregos está desempregado; entre os jovens, a proporção chega a 50%.

Bruxelas e Berlim tomam conhecimento dessa situação, mas não discutem mais o tema. Em vez disso, preferem ressaltar os progressos que a Grécia já fez. Sublinham que o crescimento econômico é positivo, que a situação orçamentária se estabilizou.

Ninguém fala sobre como as melhorias são ínfimas em relação às dificuldades reais e sobre quantos anos o período de escassez para os gregos ainda vai durar. É uma estratégia política que até parecia estar funcionando. A Grécia mal aparecia nas manchetes nos últimos tempos: a situação parecia pacificada.

Com as eleições parlamentares, agendadas para daqui a três semanas, a situação mudou drasticamente. Uma vitória do partido populista de esquerda Syriza parece provável, e, com isso, as cartas podem vir a ser novamente embaralhadas. O líder do partido, Alexis Tsipras, promete aos eleitores acabar com a política de austeridade e lutar por uma nova reestruturação da dívida.

Isso fez soar o alarme em Berlim. Fazer grandes concessões a um novo governo de esquerda iria contra a linha adotada até aqui. O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, voltou a alertar que não há alternativa às duras reformas e acrescentou que a coisa ficará difícil se a Grécia escolher um caminho diferente.

O que isso significa pode deduzido das declarações vindas de Berlim: a paciência dos alemães com os gregos está no fim – e, na verdade, eles não precisam mais tê-la.

A situação na zona do euro é mais estável hoje, e o mecanismo de resgate de possíveis vítimas de infecção está mais sofisticado e mais bem abastecido financeiramente do que em 2010 e 2012. Um incêndio generalizado na área da moeda única é considerado cada vez mais improvável.

Por isso, a permanência da Grécia deixou de ser algo para o qual não há alternativa. Pelo contrário. Uma resposta dura aos gregos poderia ser interpretada como um sinal de alerta para países resistentes a reformas, como Itália ou França.

Oficialmente, ninguém em Berlim, na Chancelaria Federal ou no Ministério das Finanças, diz considerar o "Grexit", ou seja, a saída da Grécia da zona do euro. Mas ninguém o desmente. Em vez disso, há uma divisão de tarefas dentro da coalizão de governo.

Os políticos conservadores de CDU e CSU insistem que não haverá concessões para a Grécia. Os social-democratas do SPD ponderam que uma saída do país poderia sair caro, especialmente para a Alemanha. Foi aberta, assim, a primeira das prováveis muitas rodadas no pôquer que decidirá o futuro da Grécia. Política é um negócio difícil. Em tempos de crise, muito mais do que o habitual.