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Opinião: Vergonha não exime de culpa

Fabian von der Mark
18 de junho de 2016

O ex-guarda de Auschwitz Reinhold Hanning, de 94 anos, foi condenado a cinco anos de prisão pelo assassinato de 170 mil pessoas na era nazista. O veredicto é correto, opina o jornalista da DW Fabian von der Mark.

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Fabian von der Mark é jornalista da DW
Fabian von der Mark é jornalista da DW

Reinhold Hanning participou do maior crime já perpetrado pela Alemanha. Ele foi cúmplice ativo e passivo. Ele fez parte do industrializado extermínio de seres humanos e, ao mesmo tempo, é a prova viva de que, também na era do nacional-socialismo, não eram máquinas, mas pessoas, que estavam na execução.

Quando Hanning diz estar envergonhado, trata-se de uma emoção humana. Mas mesmo essa confissão não pode des-culpá-lo. Ele carrega agora juridicamente a #link: 19338530:culpa pelo assassinato de mais de 170 mil pessoas.

Hanning não a carrega sozinho, mas também não pode ser isentado. Com o seu trabalho como um guarda num campo de concentração, o ex-membro da SS (Schutzstaffel, em alemão – organização paramilitar ligada ao partido nazista de Adolf Hitler) contribuiu para que Auschwitz se transformasse num lugar de intransponível horror. Por tabela, ele também foi responsável pela morte de 1,3 milhão de pessoas, incluindo mais de um milhão de judeus.

Com a condenação do guarda Hanning, assim como com as sentenças anteriores contra Gröning e Demjanjuk, a Alemanha mostra que aprendeu uma lição fundamental da era nazista: ninguém pode se esconder atrás de políticos, partidos ou comandos.

A Shoah [termo hebraico para Holocausto] foi um trabalho coletivo desumano daqueles que mataram e daqueles que permitiram que acontecesse. Durante o julgamento, o próprio Hanning explicou: "Eu sentia cheiro de combustão e sabia que estavam queimando cadáveres".

Por muito tempo, os alemães lidar com os crimes do período nazista. Também do lado dos órgãos judiciais. Quando, há 50 anos, o então procurador-geral do estado de Hessen, Fritz Bauer, tentou determinar a culpa de cúmplices de Auschwitz por meio de ações abrangentes, ele foi refutado até mesmo pelos tribunais alemães.

Durante décadas, ex-membros da SS escaparam de condenações por não ter se conseguido provar sua culpa por um assassinato concreto. Essa linha de argumentação foi adotada também pelos advogados de defesa de Hanning, que exigiam uma absolvição. Tal veredicto teria sido incorreto e intolerável para as vítimas.

Uma coisa é clara: na condenação de um senhor de 94 anos já não se trata de proteger a sociedade contra um criminoso. Trata-se de um compromisso com a dívida e a justiça para as vítimas. O processo de Detmold foi uma das últimas oportunidades públicas para alcançar este objetivo. Mas mesmo quando o último colaborador do Holocausto estiver morto, ficará na memória um alerta para as gerações futuras.