Após a queda do Muro de Berlim, o Ocidente fez uma espécie de pausa. O celebrado politólogo Francis Fukuyama proclamou o "fim da história", políticos fantasiaram sobre "dividendos da paz". Os Estados Unidos pregaram no próprio peito a medalha de "hiperpotência". Antigos inimigos podiam se associar aos clubes ocidentais, se obedecessem as regras, ou, eram rechaçados, ignorados.
Contudo, ao fim da Guerra Fria, faltou aos EUA a vontade construtiva demonstrada após a Segunda Guerra Mundial, quando o país criara estruturas para uma nova ordem mundial através da Otan, ONU, Banco Mundial e FMI.
Nada disso aconteceu nos anos 90. Bill Clinton permaneceu um político de província, mesmo depois de se mudar de Arkansas para a Casa Branca. Nenhuma nova estrutura de segurança no Hemisfério Norte nem combate eficaz à pobreza no Sul, quase nenhuma proteção do meio ambiente, nada de ordem de paz duradoura no Oriente Médio.
Então, em 11 de setembro de 2001, ocorreu o primeiro ataque em solo americano desde Pearl Harbor – vindo do nada, no sentido literal e figurado. O fatídico golpe encontrou os americanos despreparados e deixou muitos inseguros – até hoje. Foi um dia, no recém-iniciado século, que continuou ressoando por muito tempo. Ou, como formulou objetivamente para a DW general David Petraeus, ex-diretor da CIA: "A luta contra o terror durará por gerações."
Nos dias seguintes ao 11 de Setembro não havia como alguém ter essa percepção. Na época cabia evitar que o mundo despencasse numa recessão. Os bancos centrais abriram as torneiras de dinheiro. De início, com sucesso, pois se conseguiu basicamente evitar o colapso das bolsas de valores.
No entanto, após alguns anos, nem os bancos nem os clientes sabiam o que fazer com todo o dinheiro barato. Qualquer um nos Estados Unidos que soubesse soletrar mais ou menos o próprio nome, obtinha crédito e adquiria um imóvel na Flórida ou em qualquer outro lugar – muitas vezes um que, na verdade, era caro demais para o comprador.
Em 2008 a bolha estourou. Washington foi forçado a imprimir mais dinheiro ainda, o país se endividou ainda mais. Europeus, japoneses e outros seguiram o exemplo. As olimpíadas da impressão de dinheiro perduram até hoje, e assim os políticos adiam a solução de problemas estruturais. Ao mesmo tempo, a classe média americana míngua, seu padrão de vida vai caindo. O plano de Osama bin Laden parece ter dado certo: o arquiterrorista queria levar os EUA à ruína financeira, e não derrotá-los no âmbito militar.
O presidente Barack Obama aprendeu com os erros de seu antecessor, George W. Bush, quer retirando inteiramente as tropas dos postos no exterior, quer reduzindo-as sensivelmente. Por que os EUA deveriam investir em guerras que não têm como vencer?
No entanto, mesmo após a retirada do Iraque, só essa aventura já custa ao contribuinte americano centenas de bilhões de dólares. Pois cada inflacionamento do aparato de segurança também faz disparar os custos sociais, com os seguros-saúde ou aposentadorias para antigos militares. O país ainda arrastará esse fardo financeiro durante décadas.
Enquanto bilhões são desperdiçados com a suposta segurança a milhares de quilômetros de distância, falta todo tipo de verbas para modernizar a infraestrutura nos EUA ou tornar a educação financiável. A taxa oficial de desemprego de 5% oculta quantos cidadãos há muito já desistiram de procurar um emprego.
Os flautistas de Hamelin da política oferecem supostas soluções em sua campanha eleitoral para a presidência. A classe política de Washington não é capaz nem está disposta a fazer concessões. Nas livrarias, são sucesso de vendas os livros que profetizam o declínio dos EUA, segundo o mote: América, uma superpotência que perdeu a medida.
Contudo, querer predizer o futuro é pouco sério. Só uma coisa está clara: a cesura que constituiu o 11 de Setembro – para a segurança de nós todos, para o cerceamento da privacidade, a negligência dos Estados Unidos em relação aos direitos humanos ou ao direito internacional.
O 11 de setembro de 2001 foi mais do que uma mera advertência histórica: ele foi, antes, o dia em que a luta contra o terrorismo se afirmou como tema central do século que despontava.