A eliminação histórica da Alemanha é o último capítulo de uma trajetória tumultuada de quatro anos.
Assim como na Copa da Rússia, a Alemanha foi eliminada no Catar ainda na fase de grupos. Apesar da vitória sobre a Costa Rica por 4 a 2 nesta quinta-feira (01/12), o estrago já estava feito. Desta vez, a eliminação talvez tenha sido ainda mais dolorosa porque a seleção alemã colocou seu destino nas mãos de outros. Acabou pagando o preço por isso, depois que a Espanha perdeu para o Japão.
Eliminada na fase de grupos de duas Copas consecutivas e derrotada nas oitavas de final da Eurocopa no verão passado, a Alemanha provou uma coisa: não é mais um time de elite.
Apesar dos melhores esforços de Niclas Füllkrug, a Alemanha não conta com um número nove clássico. Defensivamente, apenas Antonio Rüdiger parece um sucessor bom o suficiente na geração que seguiu a Mats Hummels e companhia. A bagunça na lateral direita desde que Joshua Kimmich mudou para o meio-campo foi um desastre e a falta de qualidade real na posição de lateral finalmente puniu a Alemanha.
Questões estruturais
Todas essas questões estão, em parte, ligadas ao futebol juvenil na Alemanha. Reformulado pela introdução de academias no início dos anos 2000, o sistema da Alemanha produziu uma geração de jogadores tecnicamente talentosos e taticamente inteligentes. Isso levou, em parte, à glória em 2014, mas desde então a Alemanha demorou a se adaptar e o resto do mundo a alcançou. Novas reformas já estão em vigor, mas levarão quase uma década para dar frutos.
O cargo de técnico também tem sido um problema. A Alemanha foi uma montanha-russa sob o comando de Joachim Löw, que gradualmente se tornou um técnico que raramente atingia o equilíbrio ideal. No final, ele permaneceu por tempo demais, arrastando a Alemanha por duas Copas, mas não para uma nova era.
A chegada de Hansi Flick, técnico que em sua curta passagem pelo Bayern de Munique transformou o clube em uma máquina de correr riscos e vencer, trouxe grandes esperanças.
Em vez disso, o futebol de Flick oscilou no Catar, já que a Alemanha nunca pressionou com a implacabilidade necessária. Os problemas permaneceram e a faltou verdadeira inovação. Flick deve assumir alguma culpa por algumas escolhas questionáveis. Ele também foi brutalmente confrontando com o fato de que a Alemanha não é o Bayern de Munique.
Falta qualidade
Tudo isso leva à conclusão óbvia, mas surpreendente, de que, no contexto do atual futebol internacional, a Alemanha não faz mais parte da primeira divisão.
Ela é apenas mais um time. As estatísticas provam isso: a Alemanha consegiu apenas três vitórias nos últimos dez jogos oficiais. A equipe sabe disso, como demonstram os comentários de Ilkay Gündogan e Manuel Neuer após a derrota para o Japão. O empate com a Espanha acabou se revelando apenas um fogo de palha, tanto para a equipe quanto para o técnico.
Evidentemente, a Alemanha não faz mais parte da elite.
Flick provavelmente ficará no cargo. A proxima Eurocopa, em 2024, vai ocorrer na Alemanha. Será a última e possivelmente única chance de redenção de Flick. O diretor-esportivo da equipe, Oliver Bierhoff, por outro lado, pode se ver em maus lençóis.
A espinha envelhecida desta equipe atingiu seu limite. Thomas Müller sinalizou após o jogo contra a Costa Rica que vai se aposentar. Não seria surpresa ver Ilkay Gündogan, Mario Götze e talvez até Manuel Neuer fazerem o mesmo, independentemente da Eurocopa de 2024 em casa. As rodas de uma revolução rápida e radical estão em movimento.
De qualquer forma, uma verdade que há muito rondava agora é inegável: a Alemanha não é mais um time de ponta.
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Jonathan Harding é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente a da DW.