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Opinião: A autodestruição da memória de Helmut Kohl

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Jens Thurau
23 de junho de 2017

Recusa de Kohl – ou de sua viúva – de um ato de Estado alemão em memória do ex-chanceler é estúpida e arrogante e revela uma estranha visão sobre o próprio papel na Reunificação, opina o jornalista Jens Thurau.

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Jens Thurau é jornalista de política da sucursal da DW em Berlim

Que tragédia! Nesta quinta-feira (22/06) estavam reunidos no Bundestag (Parlamento alemão), o presidente da Alemanha e dois de seus antecessores, como também todo o gabinete ministerial e quase todos os deputados federais. O presidente da casa, Norbert Lammert, falou sobre o ex-chanceler federal Helmut Kohl no que não apenas se pareceu com um ato de Estado – na verdade, foi um. Mas um marcado pelo constrangimento.

Lammert elogiou o legado de Kohl, o que se espera de qualquer pessoa com um mínimo de discernimento. Mas ele também encontrou palavras críticas sobre – para usar uma expressão cuidadosa – o comportamento social questionável do ex-chanceler. Ninguém da família Kohl esteve presente.

Em termos de homenagens alemãs, não haverá mais muito para o homem que conseguiu a façanha de reunificar o país após décadas de sofrimento e sem que fosse disparado um tiro.

A responsabilidade por tudo isso – se se trata de ordens de Kohl ou de planos de sua esposa – é outra questão. O fato é que haverá, no dia 1° de julho, um ato de Estado europeu em Estrasburgo, seja lá o que isso signifique. Apenas com muito esforço e muita discrição, a Chancelaria Federal conseguiu impor o nome de Angela Merkel para falar no serviço memorial. Em outras palavras: Kohl – ou sua esposa – não queria nenhum orador da Alemanha. E muito menos uma cerimônia oficial em solo alemão.

Está claro que, entre os políticos alemães, não sobrou um que o antigo chefe de governo não considerasse um traidor. Por isso, quem deveria discursar no funeral é o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que embora pisoteie a democracia em seu país, preenche o principal pré-requisito no mundo dos Kohl: nunca expressou nem sombra de crítica ao chanceler da Reunificação.

Lammert encontrou as palavras certas. Segundo o presidente do Bundestag, a homenagem a Kohl não seria, "com todo respeito, apenas um assunto de família." Aqui, a palavra "família" se refere a somente uma pessoa: a viúva de Kohl, Maike Kohl-Richter. Seu filho mais velho do primeiro casamente está atualmente impedido pela polícia de entrar na casa do pai. Até onde vão as fendas que se abrem nesse triste episódio?

É de fato válida a pergunta sobre por que deveria interessar a um cidadão alemão, quase 27 anos após a Reunificação, se o arquiteto desse acontecimento mundial não quer ter nada que ver com os atuais representantes de seu país, mesmo depois de sua morte.

No entanto, isso diz muito sobre a visão pessoal de Kohl: quem não o apoiasse sem reservas pertencia ao lado escuro do poder. Todos os sucessores de Kohl – seja na Chancelaria Federal, em seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), ou onde quer que fosse – sempre reconheceram o seu papel crucial na época da queda do Muro e da Reunificação, e isso quando ele ainda era vivo. Mas isso não bastava para ele. Muito menos para a sua viúva.

Essa visão é egocêntrica e presunçosa. Pois Kohl foi o chanceler federal da Reunificação, mas ela foi iniciada pela revolução pacífica na antiga Alemanha Oriental – feita nas ruas por corajosos homens e mulheres. E o Tratado da Unificação está ligado ao nome de Wolfgang Schäuble, com quem Kohl – que surpresa! – veio a brigar mais tarde. Muitas pessoas estiveram envolvidas para que aquele feliz momento tenha acontecido.

Agora se nega aos alemães uma cerimônia oficial própria. Isso é estúpido e arrogante. E lança um olhar sobre a visão que o próprio Kohl aparentemente tinha sobre a época da Reunificação e talvez sobre toda a sua vida política: não importa sobre o quê, era sempre ele que tinha razão. Que deplorável.