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A crise inevitável

31 de março de 2020

Principais economistas da Alemanha veem país enfrentando grave recessão. Mas eles pedem prudência e programa de estímulo econômico, em vez do fim de medidas de isolamento. Eles estão certos, opina Henrik Böhme.

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VW Förderband
Fábrica da Volkswagen na Alemanha. País impôs medidas de isolamento socialFoto: Imago Images/Sven Simon

"Previsões sempre são um negócio difícil. Especialmente quando dizem respeito ao futuro." Esse inteligente ditado é atribuído a Mark Twain, mas opcionalmente também a Kurt Tucholsky, Winston Churchill ou Niels Bohr.

Independentemente de quem desses cavalheiros pudesse agora reivindicar a autoria: essa sabedoria nunca foi tão correta quanto nos tempos da crise do coronavírus. Porque, é claro, foi dada a partida para corrida pela cifra mais alta: qual será a porcentagem de retração da economia alemã? Cinco, dez, até 20 por cento?

Nessa corrida, quem está na frente é Clemens Fuest, o incansável presidente do instituto de pesquisa econômica ifo de Munique. Ele pediu que seus pesquisadores trabalhassem com diversos cenários. O resultado não pode surpreender ninguém, e para chegar até ele nem é preciso ter estudado economia: quanto mais longa a paralisação econômica, maior o prejuízo.

O mesmo se lê num relatório especial do conselho de peritos encarregado de acompanhar o desenvolvimento da economia alemã ‒ mais conhecido como Conselho dos Cinco Sábios. Os assessores do governo (atualmente apenas três e somente homens, porque dois postos estão vagos) preveem uma forte recessão, mas não veem a economia cair tanto quanto no ano da crise financeira global em 2009.

É claro que os peritos também avaliaram vários cenários. E é óbvio que eles não podem saber quanto tempo vão durar as medidas de quarentena e distanciamento social. O que eles sabem e também afirmam: o ônus aumenta de forma desproporcional com a duração da crise. Mas, no final, eles dizem considerar exagerada uma queda de um quinto do rendimento econômico do país.

Esta é a boa notícia: o relatório especial vai entrar agora nas considerações do governo em Berlim, que prometeu apresentar aos alemães uma "estratégia de saída" após a Páscoa. Então se deverá ter clareza como vão continuar as proibições de movimento e as restrições de contato social.

Na ocasião, o setor econômico também deverá receber sinais sobre a possibilidade de uma reabertura gradual das fábricas. Também deverá haver previsibilidade sobre as medidas de apoio com que a economia vai poder ser impulsionada novamente, além dos bilhões já acordados em ajuda. Um programa de estímulo econômico terá que vir, algo que os economistas do Conselho dos Cinco Sábios também recomendam.

Mas e se o número de novas infecções continuar aumentando daqui a duas semanas e não houver achatamento da curva? Então vai se realizar a profecia que algumas pessoas estão prevendo? Mortos versus crescimento econômico?

E as 120 mil pessoas que morrem anualmente devido às consequências do tabagismo na Alemanha, porque o governo não consegue impor uma proibição de fumar, vão ser usadas novamente como desculpa? Talvez seria preciso esclarecer que, nessa pandemia global, não existe o conflito mortos versus retração econômica. Isso não existe.

Caso se deixe a pandemia seguir seu curso, pode-se supor com certeza que ela trará sofrimento a milhões de pessoas no planeta. A crise econômica será então drasticamente maior do que a atual paralisação. Porque mortos não compram carros

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