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Opinião: A crise moral em que chafurda a política brasileira

Deutsche Welle Brasilianisch Rodrigo Rimon Abdelmalack
Rodrigo Rimon Abdelmalack
3 de dezembro de 2015

Nada justifica a adoção premeditada de medidas que podem levar o país ao caos e agravar ainda mais o já lamentável desempenho da economia, opina Rodrigo Rimon Abdelmalack, editor-chefe da redação brasileira da DW.

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Deutsche Welle Brasilianisch Rodrigo Rimon Abdelmalack
Rodrigo Rimon Abdelmalack, editor-chefe da redação brasileira da DWFoto: DW

O gelo começou a derreter em Brasília. Após meses de ameaça, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, autorizou a abertura de um processo de impedimento contra Dilma Rousseff.

Que seja justamente ele o encarregado de impor esse revés à presidente eleita é uma ironia da história. Em vias de enfrentar um processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados por suposto envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras, Cunha claramente (ab)usou (d)o poder embutido em seu cargo para salvar a própria pele.

Não é nenhuma coincidência que ele tenha deferido o processo de impeachment exatamente no dia em que o PT anunciou que votaria pela admissibilidade das investigações contra ele. Um claro toma lá dá cá.

Cunha diz que não. No Facebook, insinua que foi uma “resposta à voz das ruas” e aos protestos de março, abril e agosto. Considerando que estamos em dezembro, trata-se de um retardamento atípico para um político capaz de manobras tão ágeis quando lhe convêm.

Antes de exaltar as acusações contra Dilma, a situação escancara a perniciosidade desse político que é um perfeito retrato da crise moral em que chafurda a política brasileira. Em primeiro lugar, pois contra ela ainda não há provas de qualquer envolvimento em atividades ilícitas, apesar de toda a intensidade com que tem sido conduzida a operação Lava Jato. Diferentemente de Cunha, contra quem há provas de contas na Suíça e de desvio de dinheiro.

Além disso, a aprovação pelo Congresso do projeto de lei que altera a meta fiscal de 2015, considerada fundamental para evitar que o governo descumpra a Lei de Responsabilidade Fiscal, é um sinal de que Dilma está caminhando – mesmo que vagarosamente – para recompor sua base de apoio. Era justamente com base no crime de responsabilidade fiscal que os autores do projeto de impeachment haviam baseado sua acusação.

Dilma pode – e deve – ser confrontada com a denúncia de haver adotado uma agenda contrária ao eleitorado que nela depositou seu voto. E, isso, certamente ajuda a explicar sua baixíssima popularidade. Mas baixa popularidade não é crime.

Já no caso de Cunha é preciso questionar sua credibilidade se quisermos resgatar a dignidade da política brasileira. Talvez a decisão tenha sido fruto do isolamento por aliados que não mais têm como apoiar um político que se tornou insustentável. Ou talvez o mero revanchismo de um político sem princípios, apesar de pregar na Câmara o moralismo religioso.

Nada disso, porém, justifica a adoção premeditada de medidas que podem levar o país ao caos. Como se um impeachment não ameaçasse agravar ainda mais o já lamentável desempenho econômico brasileiro.

Mas talvez tenha sido essa a catarse necessária para que o país encontrasse a saída do buraco. Resta saber como a oposição – a mesma oposição que elegeu Cunha na presidência da Câmara a fim de limitar a governabilidade da presidente – vai lidar com o caso. E se o PT será capaz de recompor sua base de apoio a fim de garantir os votos necessários para interromper o processo.

E, tudo isso, por sua vez, vai depender da voz das ruas. O Brasil está diante de momentos decisivos.