Opinião: Alemanha não pode se omitir diante do antissemitismo
23 de julho de 2014Alemanha, 2014. Em Berlim, os órgãos de defesa do Estado abriram inquérito por incitação ao ódio contra um pregador muçulmano que convoca abertamente ao assassinato de judeus em vídeo divulgado no fim de semana. Também na capital alemã, um turista israelense foi violentamente insultado ao passar por acaso por uma manifestação contra a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza. Graças à intervenção da polícia, não houve agressão física.
Em Hannover, um deputado do Partido Verde foi ferido ao portar uma bandeira israelense durante uma manifestação. Em Essen também ocorreram distúrbios de rua. Em passeatas de solidariedade aos palestinos, em diversas cidades alemãs, neonazistas bradam, juntamente com adversários de origem árabe e com manifestantes pacifistas, palavras de ordem antissemitas, como as que também se faziam ouvir durante a época do nazismo.
Incidentes semelhantes também aconteceram em outros países europeus. Na França, por exemplo, sinagogas foram atacadas e lojas de propriedade judaica foram saqueadas.
Isso é escandaloso para qualquer Estado de Direito. Para a Alemanha – o país responsável pelo Holocausto, o país que, por esse motivo, vê na existência de Israel parte de sua razão de Estado – é mais do que isso: é uma vergonha.
É uma vergonha, mesmo que exista uma justificativa inteiramente compreensível: a ofensiva na Faixa de Gaza, a política de assentamentos e o acirramento do radicalismo de direita em Israel. Sim, há bons motivos para se criticar a política do governo israelense.
Porém, em face da violência verbal e física nas ruas alemãs, esta não é a hora de teorizar sobre as sutis diferenças entre crítica justificada e antissemitismo.
Quando sinagogas são atacadas e judeus são ameaçados fisicamente, quando nas ruas alemãs é exigido publicamente que se mandem os "judeus para a câmara de gás", então só há uma coisa a fazer: opor-se abertamente ao antissemitismo. Nós, alemães, devemos isso à nossa história. Também o devemos ao futuro da nossa democracia.