O assassinato de nove pessoas abala a Alemanha. Há horror, perguntas e, sim, também ira e perplexidade. A capital bávara Munique acabava de abrir o fim de semana de verão entre biergarten, rio Isar e os Alpes, nesta sexta-feira (22/07), quando o terror irrompeu no idílio. E na manhã seguinte a cidade acorda, o país acorda de um pesadelo. Será que o terrorismo...?
Fato é que um teuto-iraniano mal saído da adolescência deu fim a muitas vidas e feriu vários outros seres humanos. Não só os fisicamente feridos, que agora lutam para sobreviver e que tomara se recuperem: ele fere ainda muitas pessoas em seu senso de segurança, em sua psique.
O terror se aproxima – tem sido a forma convencionada pela política na última semana. Primeiro foi a terrível carnificina, com pelo menos 84 mortos, em Nice, no sul da França; depois o atentado por um jovem refugiado num trem regional em Würzburg, do qual diversos turistas chineses saíram gravemente feridos.
Há muito o país se sente inseguro. Será que o terrorismo radical islâmico acaba de chegar ao coração de uma metrópole alemã? Ou será que – justamente no dia em que se completavam cinco anos desde o massacre de fundo nacionalista na ilha norueguesa de Utoya – o ato terá um fundo de extrema direita? Tudo parece possível.
E aí o autor é um rapaz de 18 anos, que ainda frequentava a escola e morava na casa dos pais. A ligação parece ser, antes, com os massacres em escolas que abalaram a Alemanha nos últimos 15 anos. E, como em Winnenden, em 2009, paira a pergunta: onde um homem tão jovem terá arrumado uma arma...?
No dia seguinte o clima na Alemanha parece marcado por luto, também ira e, sim, um tranquilo orgulho. Luto e ira pelas vítimas e pelo absurdo do ato. Orgulho pela solidariedade e prestatividade dos moradores de Munique, abrindo suas portas e casas.
E igualmente satisfação e orgulho pelas forças de segurança da capital da Baviera, as quais, até onde se sabe, agiram com engajamento e determinação, comunicando-se de forma clara e aberta. Essa foi a resposta ao nervosismo e à pressão da mídia, assim como ao pânico na internet. De diversas partes do país, também da vizinha Áustria, acorreram 2.300 agentes de segurança, e no início da operação nenhum deles sabia o que sua tarefa implicaria, pessoalmente.
E, apesar disso, após esse ato sem sentido permanecem perguntas temerosas: quanto essa sociedade alemã vai aguentar? Que novas tensões se acumulam a cada novo ataque que sacode a Alemanha – seja obra de um franco-atirador, seja terrorismo de uma rede –, esta sociedade que se assegura contra tudo e que lida tão mal com a insegurança.
Isso ficou claro para quem quer que tenha lido, durante a noite, as assim chamadas mídias sociais ou colunas de comentários online. Não são poucas as coisas indizíveis que se escreveram ali: é um escárnio também das vítimas.
Ainda antes da meia-noite o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se pronunciou diante das câmeras sobre Munique, e muitos políticos internacionais o seguiram. Foram palavras de comiseração e ofertas de apoio. Angela Merkel, a chefe de governo alemã, só se manifestou ao meio-dia do sábado.
Mais do que tem feito até agora, a política precisa levar a sério a desestabilização e a divisão da sociedade. A nação enfrenta uma prova de resistência, é uma questão de coesão social, de determinação e sensatez por parte das autoridades, de poder de liderança da política. Mas também é necessário honestidade ao lidar com os problemas crescentes.
A democracia se nutre de uma sociedade civil viva, essa sociedade se nutre de coesão e também da confrontação franca, do debate, da resistência às tensões. Com Munique, fica claro quão grande será a tarefa de manter coesos não só as alas políticas, mas um país. E essa tarefa está apenas começando.