Opinião: Ataques não podem abalar Conferência do Clima
Em poucas semanas, pessoas de todo o mundo irão se reunir em Paris para tentar elaborar uma base sólida para a luta contra as mudanças climáticas. A Conferência do Clima (COP21) está sendo anunciada como a última e melhor chance para os líderes mundiais chegarem a um tratado eficaz que substitua o Protocolo de Kyoto, de 1997.
E, certamente, há vontade para isso: líderes-chave sinalizaram que estão mais dispostos do que nunca a tentar chegar a um acordo sólido. Empresas estão tomando medidas concretas para reduzir suas pegadas de carbono, enquanto cada vez mais instituições abandonam os combustíveis fósseis.
Em 29 de novembro, um dia antes do início das negociações, pessoas ao redor do mundo devem tomar as ruas num dia de ação sobre as alterações climáticas sem precedentes. Cerca de um milhão de pessoas eram esperadas numa marcha em Paris. Mas os ataques na capital francesa mudaram tudo.
Nesta segunda-feira, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, disse que "sem dúvida" concertos e outros eventos de natureza "festiva" seriam cancelados.
Líderes mundiais não parecem intimidados. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou na terça-feira que as negociações sobre o clima em Paris não seriam impactadas por "atos desprezíveis e covardes de terror".
No entanto, na quarta-feira, as autoridades francesas revogaram a autorização para as maiores manifestações públicas planejadas, programadas para 29 de novembro e 12 de dezembro.
As apostas para um acordo eficaz não poderiam ser mais altas. Na semana passada, o Met Office (serviço nacional de meteorologia do Reino Unido), disse que o aumento da temperatura global deverá atingir a marca de 1 grau Celsius em 2015 – a meio caminho do limite de aquecimento de 2 graus Celsius que os cientistas concordam que resultaria em impactos perigosos.
Enquanto isso, um relatório da Organização Meteorológica Mundial disse que os níveis de gases do efeito estufa na atmosfera atingiram um recorde em 2014. Considerando a diferença de emissões – ou seja, a quantidade de gases de efeito estufa projetada versus o quanto o mundo vai precisar reduzir para evitar o aumento da temperatura de 2 graus –, a nossa janela de tempo está se fechando.
Nesse contexto, vou dizer novamente: não podemos permitir que os terroristas ganhem. As negociações não devem, de modo algum, ser adiadas. E isso, pelo menos, não parece provável. Mas mesmo o cancelamento de manifestações públicas poderia resultar no tipo de sociedade que o "Estado Islâmico" está tentando impor.
De fato, proporcionar segurança para um milhão de civis seria um pesadelo logístico. Proteger as pessoas versus permitir a expressão popular é uma equação difícil. É uma tremenda decepção que o saldo da balança pareça ter pesado mais para o lado da proibição da expressão do público.
Se os ataques em Paris conseguirem abalar o entusiasmo diante da Conferência do Clima, então, os terroristas terão vencido.