O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, aprendeu a lição: ele não voltará a submeter a plebiscito o acordo de paz com os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Para legitimar o pacto histórico, que visa dar fim à mais longa guerra civil do mundo, desta vez ele buscará "só" a aprovação parlamentar.
Santos tem razão. A mais importante lição do plebiscito de 2 de outubro, que rejeitou por maioria apertada o acordo com as Farc, é: a paz não é algo que se venda facilmente; apelos ao medo ou a sentimentos de vingança, sim.
A segunda lição é que acordos que não se possa explorar politicamente são sem valor. E, como assim é, os partidos políticos gostam de usar plebiscitos para impor a sua interpretação política dos fatos. No plebiscito de 2 de outubro, o ex-presidente Álvaro Uribe conseguiu isso inegavelmente melhor do que seu atual sucessor, Santos.
Na Alemanha Oriental, após o fracasso da revolta popular de 17 de junho, o dramaturgo Bertolt Brecht passou a ser um crítico sarcástico da ditadura do partido comunista SED. Maliciosamente, propôs "Vamos abolir o povo!": o governo deveria dissolver a população e eleger uma nova para si.
À primeira vista, o prêmio Nobel da Paz Juan Manuel Santos poderia ser acusado de estar agindo dessa forma. No entanto, ele não está seguindo o exemplo do autoritário SED. Pelo contrário: com a decisão de submeter o acordo à aprovação do Congresso, e não mais uma vez ao povo, ele impede a manipulação populista num tema essencial para a sobrevivência do país.
Esse é um posicionamento que também vem ganhando relevância crescente na Europa, pois vários políticos estabelecidos na União Europeia caíram na armadilha do populismo.
A estratégia de Santos também é correta porque o acordo de paz é um dever perante as milhões de vítimas da guerra civil, cujas famílias esperam ansiosamente encontrar os restos mortais de seus entes queridos e lhes dar um sepultamento digno, com a ajuda das Farc. Elas querem contrição, não vingança.
Por isso, em sua maioria, as associações de vítimas endossam o pacto negociado entre o governo e os rebeldes, mesmo que ele esteja longe de ser perfeito. Também a maioria da população rural desalojada se posiciona desse lado. No entanto essas vozes só chegam tímidas até Bogotá – ao contrário das dos opositores do acordo, que vivem principalmente nas cidades.
Na verdade, todos os envolvidos deveriam se dar por satisfeitos com o uso político que fizeram das negociações de paz. Santos entra para a história como pacificador; os rebeldes das Farc recebem a chance de um recomeço político; Uribe triunfou politicamente com o "não" do referendo.
No entanto, até mesmo Uribe precisa compreender: não há mais o que ganhar, o jogo político chegou ao fim. A Colômbia precisa da paz mais urgentemente do que nunca. Um acordo melhor do que o que acaba de ser aprimorado não está à vista e nunca vai existir.