Rezar pode ser pecado? Em Cuba, atualmente, essa pergunta não pode ser respondida definitivamente com um "não". Pois as orações do papa Francisco, terceiro mandatário da Igreja Católica a visitar Cuba em 20 anos, são altamente políticas. Seus pedidos de ajuda em direção ao céu podem contribuir para abalar, em sua base, o sistema de partido único dos velhos revolucionários.
Durante sua visita à ilha, o Santo Padre vai insistir para que todos os cubanos possam praticar livremente a sua religião, um direito que já lhes é conferido pela Constituição cubana, mas muitas vezes ignorado na prática. Ele vai insistir para que igrejas sejam construídas e reformadas, para que as paróquias tenham acesso à internet e possam criar a sua própria mídia. Ele vai sugerir que a Igreja Católica possa administrar novamente escolas, universidades e hospitais.
As demandas de Francisco não devem ser compreendidas somente como "bônus" para o sucesso da diplomacia do Vaticano na aproximação entre Havana e Washington. Elas também revelam que liberdade de religião é mais do que poder realizar missas sem ser perturbado pela polícia secreta, mais do que venerar santos e fazer procissões.
Liberdade religiosa é um direito humano que toca o cerne da dignidade de cada indivíduo. É um dos fundamentos de uma sociedade aberta e democrática. Em Cuba, por meio da crescente influência do Vaticano, isso pode vir a se tornar agora um catalisador de reformas. Já desde o colapso da União Soviética, a Igreja Católica tem tentado desempenhar esse papel. Agora parece que o histórico momento chegou.
Além disso, mais uma vez, a Igreja Católica faz história na América Latina. Nas décadas de 1960 e 1970, os bispos do Novo Mundo assustaram os cardeais em Roma com a revolucionária Teologia da Libertação. Atualmente, essa ideologia chegou ao Vaticano na pessoa do papa Francisco, colocando agora em polvorosa os velhos revolucionários socialistas em Havana.
Em sua visita a Cuba, o papa Francisco não quer mostrar somente que a Igreja está do lado dos desfavorecidos. Ele quer libertar a "Igreja silenciosa" da existência vaga que leva desde a revolução de 1959. Ele vai pedir a todos os cubanos para que rezem pela Igreja deles. Já é certo que seus pedidos de ajuda serão escutados pelo povo. Cuba está diante de uma nova revolução. Viva a liberdade de religião!