"Está correndo bem", deve ter pensado o presidente Vladimir Putin na cúpula pré-natalina em Paris. O Ocidente e a Ucrânia estão dispostos a fazer ligeiras concessões para conquistá-lo – ele, que é o governante incontestável da Rússia – e a negociar um documento para pacificar a região de Donbass, na Ucrânia. Não há muito de novo nele: os signatários comprometeram-se a trabalhar para um 21º cessar-fogo e uma troca de prisioneiros. Medidas políticas só serão discutidas em quatro meses.
As negociações devem ter sido fáceis para o senhor do Kremlin. Já seu homólogo tem dificuldades para fingir consenso. O presidente francês, Emmanuel Macron, tentou se aproximar de Putin e fala de uma nova parceria na qual a Rússia também deve ter interesse. E a chanceler federal alemã, Angela Merkel, está começando a se cansar das iniciativas individuais do ambicioso francês.
Há uma semana, a reunião da Otan, a "aliança com morte cerebral", segundo Macron, revelou ao mundo toda a sua desunião. Enquanto os países do Leste Europeu advertem contra a Rússia, a França quer que os russos voltem a ter uma melhor imagem.
Macron e Merkel – juntos – pressionam o ucraniano Volodimir Zelenski, que passou de estrela de TV a presidente, para que, por favor, seja mais flexível e faça concessões. A posição da UE sobre o gasoduto russo Nordstream não é unânime. A Alemanha tem uma opinião positiva, mas muitos Estados do Leste a criticam veementemente.
Perante esta situação, Putin pode realmente acomodar-se e esperar. É claro que ele tem interesse em livrar-se das irritantes sanções da UE. Mas isso não é tão importante a ponto de fazê-lo desistir de suas reivindicações sobre o leste da Ucrânia ou mesmo a Crimeia. A península anexada nem sequer foi pauta oficial em Paris. Ao conservar o conflito em fogo baixo, ele pode manter a tensão no Ocidente, que ele considera um adversário. Além disso, torna praticamente impossível à Ucrânia aproximar-se mais da UE e da Otan, que excluem a admissão de países onde há conflitos. Putin usa a mesma estratégia no caso da Geórgia, da qual separou a Ossétia do Sul.
O Ocidente e a Ucrânia precisam tanto de Putin que Macron, Merkel & cia. continuam negociando com o presidente russo, embora suspeitem que ele tenha sido o mentor da derrubada do voo MH17 sobre a Ucrânia, do envenenamento do ex-agente russo Serguei Skripal e sua filha no Reino Unido, e agora também do assassinato de um georgiano em Berlim.
Do ponto de vista alemão e francês, é muito difícil obter concessões de Putin, especialmente porque a relação com os EUA, grande parceiro na Otan, é ambivalente. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acredita por alguma razão desconhecida que Putin é um "grande cara", mesmo que o russo ainda não tenha avançado um centímetro ao seu encontro.
Se isso ainda não bastar a Putin como prova da sua força, basta um olhar sobre as ruas de Paris, o que ele deve ter feito nesta terça-feira. Uma greve com duração indeterminada paralisa a capital francesa. Protestos furiosos contra Macron. Conflitos na política interna não são um bom respaldo a uma política externa forte.
E Merkel? A chanceler federal alemã, que desempenhara um papel decisivo no primeiro encontro no "Formato Normandia", em 2014, e no Acordo de Minsk para a pacificação da Ucrânia, pronunciou apenas tons leves em Paris. Para o presidente da Rússia, que ao ocupar diferentes cargos está há mais tempo no poder do que Merkel, é óbvio que os dias dela na política estão contados. A coalizão de governo em Berlim está em crise. Então, por que ceder agora?, deve perguntar-se o esperto russo.
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