Democracia chilena amadureceu após 25 anos
11 de março de 2015Desde que, em 11 de março de 1990, o ditador Augusto Pinochet entregou o poder no Chile após perder eleições em que, citando uma conhecida expressão do jornal Fortín Mapocho, "correu sozinho e chegou em segundo", muitas coisas mudaram no país sul-americano.
O Chile não só se posicionou como um dos estados mais estáveis e prósperos da região, como também soube, lenta, mas sistematicamente, reforçar uma democracia que, em seu começo, foi frágil devido às pressões dos grupos de poder encarnados basicamente pelo Exército – que continuou sendo comandado por Pinochet até 1998 – e pela Igreja Católica.
O primeiro governo democrático após 17 anos de regime militar buscou, segundo um lema desses anos, justiça "na medida do possível". Patricio Aylwin, um democrata-cristão que liderou um mandato de estilo restaurador, precisou conciliar a necessidade de buscar a verdade sobre as violações de direitos humanos com a manutenção do equilíbrio com Pinochet e seus aliados. Uma tarefa difícil.
Seu sucessor, o também democrata-cristão Eduardo Frei, tentou abrir as portas do Chile para que o mundo entrasse em seu país, firmando acordos comerciais que consolidaram o caminho assumido em plena ditadura – uma economia de livre mercado –, mas à qual a Concertación, a aliança que governou o Chile entre 1990 e 2010, buscou dar um verniz social.
Quando, há exatos 25 anos, Aylwin assumiu o comando perante um Congresso que retomava também suas funções, depois de 17 anos de recesso forçado, o aplauso ensurdecedor – de quem também derramou lágrimas ao ver a bandeira tricolor no peito de uma autoridade eleita democraticamente – ressoou durante vários minutos enquanto Pinochet abandonava o recinto. Começava então uma outra era para o Chile, onde muitos dos exilados optaram por retornar ao país para escrever um novo capítulo de suas vidas.
A Alemanha desempenhou um papel fundamental nesse episódio. Tanto Bonn como Berlim abriram suas portas depois do golpe de Estado de 1973 para receber centenas de chilenos que não tinham onde continuar suas vidas. A atual presidente, Michelle Bachelet, está entre eles. A chefe de Estado, que também neste 11 de março completa um ano de seu segundo mandato, viveu em Berlim Oriental, onde teve seu primeiro filho e continuou seus estudos de Medicina, que finalmente terminou na Universidade do Chile. A Concertación devolveu o favor fazendo uma concessão muito polêmica na época: acolheu Erich Honecker em Santiago. Até hoje, sua viúva, Margot Honecker, vive numa casa em La Reina.
Como é lógico, e tendo presente que a maioria dos chilenos não viveu o golpe de Estado de 1973, e muitos nem sequer viviam para participar do Plebiscito do Sim e do Não, de 1988, que marcou tão profundamente o país, o Chile, de pouco a pouco, começa a deixar para trás seu passado difícil, mas sem esquecer as marcas indeléveis.
Foi feito justiça, ainda que, até os dias atuais, muitos lamentam que essa não alcançou diretamente Pinochet. Mas o Chile tem sido capaz de se reconstruir, de ser governado por uma direita eleita democraticamente entre 2010 e 2014 e de retomar a trajetória de centro-esquerda desde março do ano passado sem que as instituições balançassem. Isso indica uma democracia madura e preparada para os desafios. Indica que a famosa "transição", palavra que tanto marcou os chilenos no anos 1990, é também parte do passado.
Agora, Santiago deve demonstrar que essa maturidade é suficiente para enfrentar seus novos problemas: as demandas sociais, o desinteresse dos eleitores pela política e os casos de corrupção e escândalos políticos – que afetam tanto a direita como o governo – aparecem no horizonte como assuntos que devem ter uma atenção especial. Um quarto de século é tempo suficiente para deixar as desculpas de lado e enfrentar as mudanças que um país moderno exige.