Que dia em Washington! Nesta terça-feira (21/08), foi revelado que dois colaboradores íntimos de Donald Trump deverão ir para a cadeia por um longo tempo. O ex-chefe de campanha Paul Manafort foi considerado culpado de várias acusações de fraude fiscal. E quase simultaneamente o ex-advogado do presidente Michael Cohen admitiu diante de tribunal ter violado regras de financiamento de campanha eleitoral, seguindo ordens. Para todos os adversários do bilionário na Casa Branca, essas são boas notícias.
O caso de Manafort não era central a questão de até que ponto a equipe eleitoral dos republicanos fez acordos ilegais com representantes do governo russo, a fim de prejudicar a então oponente Hillary Clinton. No entanto, essa questão representa um papel importante, também num novo processo que se inicia em meados de setembro.
Cohen se declarou culpado de ter pagado pelo silêncio de duas mulheres que supostamente tiveram relações sexuais com Trump, e disse tê-lo feito seguindo indicações "de um candidato" com o fim de "influenciar uma eleição". O presidente assegurou repetidamente que não ocorrera nem contato sexual, nem transferência de dinheiro. Se Cohen é culpado no sentido jurídico, então Trump é mais ainda.
Práticas eleitorais ilegais e adultério veementemente negado têm, ambos, um lugar de destaque na história dos Estados Unidos. No primeiro caso, o escândalo de Watergate, Richard Nixon foi forçado a renunciar à presidência em 1974, de forma a evitar o impeachment.
No segundo caso, iniciou-se um processo contra Bill Clinton por ele ter mantido relações sexuais com a estagiária Monica Lewinsky, mas negar o fato sob juramento. A ação judicial acabou fracassando, mas a reputação do então presidente ficou consideravelmente abalada.
Embora esteja cada vez mais óbvio que em sua campanha Trump enganou, subornou e mentiu, e que, portanto, haveria bons motivos para o impeachment, não está à vista um processo nesse sentido. Pois para tal seria necessário o apoio da maioria simples na Câmara dos Representantes e de dois terços no Senado.
É impensável os republicanos – que no momento detêm a maioria tanto no Senado quanto na Câmara dos Representantes – se voltarem contra o seu próprio presidente. O mesmo se aplica à possibilidade de os democratas conseguirem a maioria em ambas as câmaras legislativas nas eleições intermediárias de novembro.
Independentemente de que se acuse o presidente, uma boa parte da população continua apoiando-o. Para seus adeptos, as notícias sobre suas transgressões são propaganda e fake news de uma imprensa mentirosa – Trump reforça tais acusações absurdas quase diariamente em tuítes irados.
Os EUA são um país profundamente dividido. Os apoiadores e os opositores de Trump não conseguem sequer concordar quanto a uma base factual comum a partir da qual julgar as ações desse homem – uma circunstância que faz olhar com apreensão para a cultura política dessa tão tradicional democracia.
Sobram então os tribunais. Diante das sentenças de vários anos de prisão que os ameaçam, e provável que tanto Cohen quanto Manafort passem a cooperar com os investigadores. Aí não será de espantar se em breve vierem a público novos fatos pouco apetitosos.
Ainda assim é duvidoso que se abra uma ação contra o presidente, pois o cargo lhe dá imunidade política, pelo menos se tratando de acusações que se refiram a suas funções oficiais. Se as escapadas sexuais dele antes da eleição também se encaixam nessa definição, é uma questão para juristas debaterem. Ele próprio acredita até que tem o poder de perdoar a si mesmo.
Assim, tudo indica que, a despeito de suas falhas de caráter, o homem na Casa Branca vai poder continuar tranquilamente sua política de arruaças, agindo como alguém que já não tem mesmo nada mais a perder em termos de reputação. E essa é a má notícia desse memorável dia em Washington.
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