Opinião: Engolindo sapos em frente às câmeras
28 de abril de 2018A chanceler federal alemã, Angela Merkel, deixou de lado desta vez pedidos ao presidente dos Estados Unidos para que ele respeite as normas internacionais e os valores comuns. O presidente francês já havia feito isso na quarta-feira em seu apaixonado discurso perante o Congresso dos EUA. Em vez disso, Merkel repetidamente admitiu que cabe a Donald Trump decidir. E só a ele.
Aparentemente, ele gosta de ouvir isso da boca da chanceler federal. Assim que Trump tomou posse, Merkel congratulou-o com um breve discurso sobre suas obrigações em relação aos direitos humanos. Mas isso já é história.
"O presidente decide", disse ela, sobre a possível prorrogação da isenção tarifária sobre aço e alumínio que a União Europeia desfruta desde março. O tempo está passando e o prazo se encerra em 1° de maio. As contramedidas europeias já estão prontas. Uma guerra comercial está a apenas um tweet de distância.
Horas antes da partida da chanceler, a delegação alemã já se mostrava resignada e havia reduzido suas expectativas ao mínimo. Agora, as duas horas e meia de reuniões parecem um sucesso apenas porque, pelo menos, não houve desavenças abertas. Há pouco mais de um ano, Trump chegou a ignorar Merkel quando ela estendeu sua mão para ele diante das câmeras.
Todas as tentativas subsequentes de diálogo em condições iguais fracassaram. Desta vez, Merkel mudou sua estratégia: primeiro é preciso ceder. E então, talvez seja preciso virar o volante um pouco para evitar o abismo.
Em relação ao acordo nuclear com o Irã, os europeus temem que a recusa de Trump em renová-lo – o prazo vence em 12 de maio – possa acabar com toda a iniciativa. Eles se preocupam com as consequências devastadoras para a região, mas também com a credibilidade da diplomacia ocidental.
Já ficou claro em Washington que há um trabalho coordenado entre Merkel e o presidente francês, Emmanuel Macron, para salvar o acordo. Antes de suas respectivas viagens aos Estados Unidos, Macron e Merkel haviam expressado durante um encontro em Berlim suas preocupações sobre o programa de mísseis convencionais do Irã.
Na terça-feira, Macron deu um passo adiante e propôs a Trump buscar um "novo acordo" além do existente. Merkel acrescentou depois que a Alemanha também acha que é preciso "adicionar mais" porque as cláusulas atuais "não são suficientes para conferir ao Irã um papel baseado na confiança".
Assim, a chanceler dá a razão para Trump com a esperança de que algo seja adicionado ao atual acordo, em vez de transformá-lo completamente em letra morta.
Em outras frentes, Merkel mais uma vez tentou agir para que Trump enxergue o grande déficit comercial dos Estados Unidos com a Alemanha levando em conta os investimentos diretos alemães em seu país. Mas, em relação ao aumento nos gastos com defesa, ela já não tem mais como despistar.
A explicação gentil de Merkel de que a Alemanha está mudando seu papel no mundo, agora que a era do pós-guerra está chegando ao fim, não ajuda. A declaração de que seu governo pretende elevar os gastos militares atuais de 1,3% do produto interno bruto para aproximá-lo da meta de 2% da Otan continua ainda insuficiente para Trump. O novo secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, já disse isso durante a reunião dos ministros do Exterior da Otan em Bruxelas.
Trump diz que a relação entre os Estados Unidos e a Alemanha carece de "reciprocidade". Embora, segundo ele, seu relacionamento pessoal com Merkel já fosse "excelente desde o início". Ela é uma "mulher muito extraordinária", chegou a dizer.
E essa mulher extraordinária é extraordinariamente conciliadora. A máxima que ficou da reunião foi: nós simplesmente lhe damos um pouco de razão e o mundo, talvez, garanta paz. Pelo menos por um tempo. Ou, pelo menos, sobre a questão do Irã. Ou a Síria. Ou o livre comércio.
Isso pode ser um bom negócio. Se Trump está de acordo, descobriremos em breve – provavelmente por meio do Twitter.
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