Clinton na Ásia
24 de fevereiro de 2009Por quase 50 anos, toda primeira viagem de um novo secretário de Estado norte-americano tinha como destino a Europa ou o Oriente Médio. Hillary Clinton fez diferente. Ela cruzou o Pacífico. E com isso surpreendeu inclusive seus anfitriões.
Tóquio, negligenciada na era Bush, foi a primeira parada de Clinton. E ela assegurou a seus anfitriões que o Japão é uma das pedras fundamentais da política externa norte-americana. Clinton levou um presente especial ao primeiro-ministro Taro Aso: ele será o primeiro chefe de governo a visitar Barack Obama na Casa Branca.
A viagem da chefe da diplomacia norte-americana foi preparada como uma ofensiva de charme. No Japão e na Coréia do Sul, ela enfocou a tradicionalmente estreita cooperação também em questões de segurança.
A Indonésia teve um significado muito simbólico nesta viagem. De um lado, o arquipélago é a maior nação islâmica do mundo. De outro, tornou-se uma verdadeira democracia nos últimos dez anos, após livrar-se da didatura de Suharto. Clinton surpreendeu ao dedicar muito tempo a apresentações públicas. Ela participou, por exemplo, de um popular programa de televisão para jovens. A mensagem implícita era: a América procura parceiros e amigos.
A potência Estados Unidos aposta em soft power (poder brando) – ou como diz Clinton: em smart power (poder inteligente).
A concentração na guerra do Iraque e no combate ao terrorismo durante os anos Bush pertence ao passado. Agora, são tema os grandes problemas mundiais: a crise econômica e sua origem nos EUA foram o principal assunto em todas as estações da viagem de Clinton pela Ásia.
Ao incluir em sua delegação o encarregado pela proteção do clima, Todd Stern, Clinton demonstrou que a Casa Branca pensa de forma diferente em relação à proteção climática.
E, tendo em vista o programa nuclear norte-coreano, também a proliferação de armas nucleares foi amplamente discutida em Tóquio, Seul e Pequim.
Pequim foi certamente a etapa mais difícil da viagem. Já antes de a viagem começar, ambos os lados trocaram fortes repreensões em questões econômicas.
Nos Estados Unidos, os nervos estavam à flor da pele já desde meados de fevereiro, quando foram anunciados os novos índices da balança comercial, que indicavam que o déficit dos EUA em relação à China cresceu para 266 bilhões de dólares no ano passado. Nunca na história um país teve um déficit tão grande em relação a outro.
O novo secretário norte-americano do Tesouro, Timothy Geithner, já havia acusado a China de manter artificialmente baixa a cotação de sua moeda para favorecer as exportações. Em contrapartida, a China acusou os Estados Unidos de tendências protecionistas em seu programa conjuntural de 800 bilhões de dólares.
Hillary Clinton se esforçou para aplacar os ânimos. Estamos juntos no mesmo barco, declarou ao premiê chinês Wen Jiabao. Na realidade, ela cortejou o dinheiro chinês. Já agora a China detem mais papéis do Tesouro norte-americano do que qualquer outro Estado – cerca de 600 bilhões de dólares. Seria um pesadelo para os EUA se a China justamente agora freasse a compra de mais papéis. Ou – pior ainda – os jogasse no mercado.
Aí se pode medir o quanto mudaram as relações de poder no mundo nos últimos anos. Por isso, Clinton considera tão importante a cooperação com a China e a boa vontade de Pequim.
Ela compra a "nova era" nas relações bilaterais anunciada pelos EUA também com fortes cortes nos próprios valores. Direitos humanos, Tibete ou Taiwan, disse Clinton em Pequim, não devem prejudicar as discussões sobre segurança, crise econômica e mudanças climáticas.
Mas não é o Ocidente que as prejudica. A China é que reage de forma paranóica e tem problemas para lidar com críticas. Durante a visita de Clinton, uma série de ativistas dos direitos civis foi colocada sob prisão domiciliar, advertida e observada mais intensamente que de costume. (rw)
Matthias von Hein é perito da Deutsche Welle em assuntos relacionados a China, Taiwan e Hongkong.