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Opinião: Fifa deveria aumentar pressão sobre Catar

Andreas Sten-Ziemons (pv)15 de maio de 2014

País árabe anunciou o fim do polêmico sistema que mantinha trabalhadores estrangeiros em situação análoga à escravidão. Blatter aplaudiu a decisão, mas reformas sociais precisam continuar, opina Andreas Sten-Ziemons.

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O anfitrião da Copa do Mundo de 2022 aparentemente é capaz de aprender. O Catar anunciou abolir o sistema kafala e a dele resultante dependência dos trabalhadores estrangeiros de seus respectivos empregadores. Joseph Blatter, controverso presidente da Fifa, reagiu prontamente e aplaudiu a decisão. Blatter e sua federação, que concedeu em dezembro de 2010 o direito de sediar o Mundial de 2022 ao Catar, foram alvos de duras críticas devido às condições desumanas dos trabalhadores estrangeiros e às inúmeras mortes nas obras. Blatter e a Fifa, então, começaram a pôr o governo do emirado sob pressão.

Andreas Sten-Ziemons
Andreas Sten-Ziemons é redator de Esportes da DWFoto: DW

Agora Blatter fala de um passo significativo "na direção certa para uma mudança sustentável nas condições de vida dos trabalhadores no Catar". Ele se diz otimista com a implementação da reforma nos próximos meses. No entanto, com o simples anúncio de reformas nada ainda foi alcançado. O governo do Catar, de acordo com a divulgação oficial, quer substituir o sistema kafala por um sistema "com base em contratos de trabalho" – inclusive a retenção dos passaportes dos trabalhadores por parte do empregador deve ser alvo de punições –, mas até que ponto essas medidas realmente melhoram as condições de trabalho no país ainda é incerto.

O sistema kafala e a retenção dos passaportes são, na verdade, apenas uma parte dos problemas no nobre emirado do Golfo Pérsico. Os xeques adquirem a sua fortuna com os negócios envolvendo petróleo e gás, à custa daqueles que ali trabalham. No último ano, inúmeras queixas vieram à tona: extensas cargas horárias de trabalho sob o sol escaldante e temperaturas em torno dos 50 graus Celcius; sem água potável suficiente; sem acessórios e medidas de segurança; com alojamentos superlotados e em condições de higiene degradantes, com centenas de pessoas dividindo poucos e precários banheiros. Alguns dos estrangeiros chegam a trabalhar meses sem receber o devido salário. Mas será que isso vai mudar apenas porque os passaportes não estarão mais em posse dos empregadores?

Em todo caso, ainda é preciso provar o quão liberal será a concessão de vistos de saída do Catar no futuro. Até o momento, os trabalhadores estrangeiros precisavam da autorização do empregador para poder deixar o país. Agora, essa decisão deverá ser tomada pelo Ministério do Interior. Mas isso ainda não é uma garantia de que todo estrangeiro que queira deixar o país de fato consiga sair.

A Fifa não deve cometer o erro de se dar por satisfeita e registrar o simples anúncio do xeque como um sucesso. Em vez disso, seria apropriado aproveitar a ocasião para aumentar a pressão e exigir melhorias concretas e de caráter vinculativo para os trabalhadores estrangeiros.

Apenas quando os trabalhadores estrangeiros no Catar conseguirem condições decentes de trabalho, de salário e de vida, a Fifa poderá se recostar – algo que se gosta de fazer por lá – e proclamar que o futebol mais uma vez fez do planeta um lugar melhor.