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Eleição na Rússia

18 de dezembro de 2007

O presidente russo Vladimir Putin declarou querer ser primeiro-ministro em caso de uma vitória de seu candidato à presidência, Dimitri Medvedev. Mas é difícil imaginar Putin como premiê russo, opina Ingo Mannteufel.

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À primeira vista, parece tudo muito simples: Dimitri Medvedev, o candidato de Vladimir Putin, deve sucedê-lo na presidência da Rússia, enquanto o próprio Putin continua no poder como primeiro-ministro. Não está descartado que a dupla Medvedev-Putin irá governar a Rússia a partir de meados de 2008.

Ingo Mannteufel
Ingo Mannteufel

Só que, analisando esta possibilidade mais atentamente, surgem grandes dúvidas. Como é que devemos entender isso? O premiê Putin vai dirigir-se de manhã ao Kremlin para prestar contas ao presidente Medvedev e relatar sobre os avanços ou eventuais fracassos de projetos nacionais?

O presidente Medvedev irá então elogiar seu antecessor e amigo paternal ou repreendê-lo em caso de falha grave? Na melhor das hipóteses, isto terá o efeito de uma grandiosa sátira. Na pior delas, o presidente Medvedev destruiria o mito do "líder nacional" Putin.

Não. É difícil imaginar Putin agindo sob o comando de seu protegido Medvedev na função de primeiro-ministro, pelo menos se continuar como está a divisão de poder entre o presidente e o primeiro-ministro na Rússia. E o próprio Putin deve estar ciente disso.

Não se deve ver como resultado final a disposição de Putin de se tornar premiê sob a presidência de Medvedev. Há outras razões mais prementes para o anúncio de Putin, pois até 2 de março ele tem apenas um objetivo em mente: Dmitri Medvedev tem que ser o próximo presidente russo!

Mesmo que a máquina da propaganda trabalhe nos limites máximos e, como sempre, estejam sendo usados todos os recursos administrativos, Medvedev necessita do máximo apoio de Putin para este empreendimento.

Por este motivo, especula-se que Putin se tornaria premiê sob uma presidência de Medvedev. Da mesma forma como o partido do Kremlin "Rússia Unida" ganhou as eleições para a Duma com Putin como candidato principal, o inexpressivo e para alguns ainda desconhecido Medvedev deveria ganhar a eleição presidencial com Putin como seu primeiro-ministro.

Do mesmo modo, a próxima eleição presidencial pode ser convertida em um referendo para Putin, mesmo que ele oficialmente nem seja candidato – fiel ao lema "Elejam Medvedev e estarão mantendo Putin".

O apoio de Putin a Medvedev, no entanto, não é só um sinal para a população e os eleitores russos. A perspectiva "Medvedev presidente e Putin primeiro-ministro" também é um sinal para parte da elite do Kremlin que não vê de forma tão positiva a eleição de Medvedev.

É um rumor amplamente aceito de que houve e ainda há na elite do Kremlin forças partidárias à permanência de Putin na presidência. Estas temeriam que, sob a presidência de Medvedev, pudessem perder poder e acesso aos cofres do país.

Justamente a estes poderosos adversários de Medvedev, que ao menos teoricamente estariam em condições de forjar e lançar material comprometedor sobre o candidato, Putin deu claros sinais de que devem aceitar Medvedev como presidente. Afinal, Putin vai permanecer no poder – só que como primeiro-ministro.

Neste momento, ainda não se pode excluir a possibilidade de que Putin venha a se tornar primeiro-ministro da Rússia sob a presidência de Medvedev. Mas isso ainda não é fato consumado. A verdadeira decisão será tomada apenas depois de 2 de março no Kremlin.

Até lá, o próximo ato neste teatro político é eleger Medvedev para presidente − custe o que custar.

Ingo Mannteufel é o chefe da redação russa da DW-WORLD.DE.