Opinião: Macron, o novo líder da Europa
16 de abril de 2018Foi ele próprio quem convenceu pessoalmente seu homólogo americano, Donald Trump, a retaliar o ataque com gás tóxico em Duma, assegurou o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, em sua segunda grande entrevista numa semana memorável.
Com certeza ele não queria fazer o mesmo papel que seu antecessor, François Hollande, que em 2013 preparou tudo para entrar na guerra junto com os americanos – já na época o regime do presidente Bashar al-Assad aterrorizava a Síria com seus ataques com gás. No entanto, no último segundo, o então presidente Barack Obama voltou atrás. O francês se sentiu traído.
Macron conseguiu evitar essa impressão. Ele tampouco repetiu o erro de Obama, de traçar uma "linha vermelha" e depois não agir quando ela é ultrapassada.
Permanece em aberto se essa é a maneira correta para melhorar a situação na Síria, mas claro está: o presidente da França agora posa de estadista de ação, que faz o que promete. Mas também ele vai constatar que a posição de lobo-alfa da União Europeia – sobretudo em questões de guerra e paz – logo pode se tornar terrivelmente solitária.
Na declaração dos ministros do Exterior divulgada nesta segunda-feira (16/04) leem-se muitas sugestões conhecidas: acesso humanitário, cessar-fogo, solução política. Só faltou a reivindicação de uma zona de exclusão aérea. Aí se poderia dizer que os europeus retomaram todos os tópicos que já há anos estão sobre a mesa, no conflito armado da Síria.
Mas há muito tempo já está claro: isso tudo pode soar pacifista e construtivo, mas para a população da Síria não faz a menor diferença. O Ocidente fracassou, e Macron sabe disso. Contudo, ele quer no mínimo dar a impressão de que, aqui na Europa, há alguém que tenta ao menos fazer alguma coisa, e para isso se utiliza de todos os palcos disponíveis.
Além das duas entrevistas de várias horas dos últimos dias, na terça-feira Macron fará um discurso no Parlamento Europeu sobre o futuro da UE. Dois dias mais tarde ele vai se encontrar em Berlim com a chanceler federal alemã, Angela Merkel, pois não quer deixá-la de fora.
O que não é assim tão simples: o francês está tão presente, em todos os canais, que por vezes precisa se esforçar para preservar a impressão de uma estreita cooperação franco-alemã. Já foi assim durante a inusitadamente longa formação de governo em Berlim.
Porém, quando se trata de questões militares, a Alemanha já está quase automaticamente de fora. Isso vale, aliás, para a maior parte dos Estados da UE. Apesar de todos os planos de uma política interna e externa conjunta para o bloco, em termos de ataque e defesa cada país está à própria sorte. Isso ficou confirmado no pronunciamento conjunto dos ministros europeus do Exterior: o apoio aos ataques aéreos na Síria é ostensivamente contido.
É a história de sempre: a França e o Reino Unido se encarregam do trabalho sujo militar, e nenhum dos demais países possui nem a vontade nem as possibilidades técnicas para executar ofensivas aéreas como as de sábado passado. Muitos podem achar isso bom, mas não é a melhor maneira de ser levado a sério no palco internacional.
Além do impulso para agir, do carisma e dos amplos poderes, o presidente francês é um dos poucos na Europa que também dispõe da potência militar para se fazer ouvir no mundo. Não há dúvida: as ações da Alemanha são de alta importância quando se trata de questões econômicas. No conflito da Síria, porém, visto de fora, o país não tem nenhuma relevância.
Tal divisão de papéis pode funcionar para a União Europeia como um todo, mas para a estrutura interna de poder, entre Paris e Berlim, ela tem consequências. Macron mostrou que leva tremendamente a sério os próprios compromissos. Lançar mísseis é bem diferente de reivindicar um ministro europeu das Finanças.
Com essa ação, Macron deixou definitivamente de lado aquela leveza juvenil que lhe valeu a vitória eleitoral em 2017. A União Europeia e o mundo veem agora um novo presidente da França: desencantado, mais sério, mais decidido; Macron, a autoridade, o comandante supremo.
Desse modo, ele também passa a ser o chefe de governo para quem os colegas da UE primeiro voltam os olhos. Talvez não em todas as questões, mas certamente em muitas, e acima de tudo nas de política externa. Isso não traz só vantagens para Macron: um líder é alguém que muitos querem seguir, mas também atrás de quem muitos preferem se esconder.
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