A extensa visita de Emmanuel Macron aos Estados Unidos foi composta por duas partes. No foco da primeira etapa, estiveram sobretudo ele mesmo e o presidente americano, Donald Trump, que tinha convidado o homólogo francês para a primeira visita de Estado de um dignatário estrangeiro a Washington desde que assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2017. Embora tenha aproveitado oportunidades para explicar, cordialmente, as diferenças políticas entre os dois países, Macron manteve basicamente uma atitude de deferência em relação ao anfitrião.
Como outros chefes de Estado e de governo, a exemplo da chanceler federal alemã, Angela Merkel, Macron também não foi poupado de um típico tratamento à la Trump: tentando deixar seu convidado de honra "mais bonito", Trump retirou o que chamou de caspa do terno de Macron. Ele também mandou um beijo ao colega e, em geral, se comportou da mesma forma tempestuosa de sempre.
Em suas declarações públicas e durante uma entrevista coletiva conjunta, Trump não abordou nenhum dos temas considerados importantes pelo homólogo francês: a prorrogação do acordo nuclear com o Irã, a continuidade do envolvimento dos Estados Unidos na Síria após a vitória sobre o chamado "Estado Islâmico", a luta contra o aquecimento global e o fim das ameaças de impor taxas às importações europeias. Macron conseguiu contornar tudo isso e não parecer desconfortável diante das palhaçadas de Trump no estilo "pastelão" e da franca rejeição de seus objetivos políticos.
Depois dessa primeira parte, a impressão que pode ter ficado é a de que Trump não estava tratando Macron de igual para igual. A piedade com Macron foi quase inevitável. Trump sufocou seu convidado com elogios, mostrou-lhe a casa de George Washington em Mount Vernon e realizou um pomposo banquete de Estado para ele na Casa Branca. Mas, depois, criticou publicamente as sugestões de Macron, que não obteve mais do que a fórmula padrão do presidente americano: "Saberemos em breve."
Mas eis que veio o segundo ato da visita de Macron, no qual ele falou diante dos senadores e deputados no Congresso. Ele discursou em inglês – o que, por si só, é incomum para um presidente francês.
O que ele executou em seguida não foi nada menos do que uma recusa direta da política de Trump e da tática que o levou ao poder. Macron apelou fervorosamente em favor da democracia, da liberdade, da tolerância, dos direitos humanos e da cooperação internacional – uma defesa poderosa dos valores do Ocidente.
Macron disse tudo isso diante de um Congresso controlado pelos republicanos, que, salvo raras exceções, apoiam um presidente que nega ou ignora esses valores com frequência. O fato de Macron ter discursado no coração da democracia dos Estados Unidos deu peso adicional a suas palavras.
Mas, se a visita de Macron consistiu de duas partes tão diferentes, é possível chamá-la de bem-sucedida – sobretudo pelo fato de ele mal ter conseguido fazer vacilar a posição de Trump em relação a questões cruciais?
A resposta é sim. Por dois motivos: em primeiro lugar porque, na Washington de Trump, é preciso ser grato por qualquer sucesso, por menor que seja. Após a surpreendente vitória do republicano, observadores na capital americana comentaram meio brincando, meio a sério que o primeiro banquete estatal seria oferecido ao primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán.
A especulação não foi tão exagerada – afinal, o primeiro político estrangeiro que Trump visitou após sua vitória nas urnas foi Nigel Farage, líder populista idealizador do Brexit. E é importante lembrar que, esta semana, Trump chamou o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, de "muito honrado".
Nesse contexto, o convite a Macron – o presidente de um aliado tradicional dos EUA, mas também um membro fundamental e defensor da União Europeia – não foi nenhuma obviedade. Pelo contrário: foi um êxito significativo tanto para Macron quanto para Bruxelas.
Em segundo lugar, Macron aproveitou a visita para, especialmente durante seu discurso no Congresso, delinear e defender valores ocidentais e a unidade europeia. Fazendo isso de forma comovente e eloquente, ele desenhou uma visão de mundo que pode ser descrita como o antídoto contra a visão de mundo de Trump. Mostrar essa alternativa foi altamente oportuno e extremamente necessário.
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