Prioridade máxima?
23 de outubro de 2008Lamentavelmente, os políticos reunidos em Dresden na chamada cúpula da educação, na quarta-feira (22/10), não apresentaram nenhuma resposta adequada aos problemas que afetam o setor educacional na Alemanha. A educação, tema predileto dos discursos políticos domingueiros, foi mais uma vez degradada a meio para polir a imagem dos políticos.
"A educação deverá ter prioridade absoluta na Alemanha", anunciou-se ao final da conferência. Sim, mas ela já não tinha antes? A União e os estados federados chegaram em Dresden a um acordo quanto a reduzir à metade o número de alunos que interrompem os estudos ou a formação profissionalizante. Essa é uma reivindicação freqüente, só que até agora nada aconteceu.
A União e os estados federados pretendem aumentar os recursos destinados à educação e à pesquisa para 10% do Produto Interno Bruto até 2015. Isso soa bem, só que ninguém disse como essa meta deverá ser atingida.
É de admirar que se consiga, num espaço de tempo curtíssimo, amarrar um pacote bilionário para o setor financeiro afetado pela crise, mas que aparentemente seja impossível chegar-se a um consenso quanto ao financiamento da mais importante matéria-prima de que a Alemanha dispõe – a educação.
Aquilo que foi anunciado na quarta-feira tem caráter meramente simbólico: "Vejam, demos prioridade máxima à questão, estamos nos ocupando dela". É uma frase de efeito, seja um ano atrás, seja daqui a um ano, quando haverá eleições para as assembléias estaduais e para o Parlamento federal.
Pelo menos foi criada uma comissão com a tarefa de esclarecer o financiamento dos ambiciosos planos. Mas os resultados só serão apresentados depois das eleições federais em 2009. Protelar em vez de agir, eis o lema.
Mais uma vez os problemas centrais do sistema de ensino alemão não foram atacados. Continua sendo desastroso que, num país rico como a Alemanha, a conta bancária dos pais determine as opções dos filhos na educação.
A reivindicação do então chanceler federal Willy Brandt nos anos 1970, "Educação para todos", nunca foi cumprida. O filho de um executivo vai para o Gymnasium [pilar do sistema de ensino que permite o acesso à universidade]; o filho de um operário, para a Hauptschule [escola que proporciona uma formação geral básica menos qualificada] – isto ainda continua sendo realidade em muitos casos. Crianças que crescem em famílias que não tiveram acesso a uma boa educação, crianças com histórico de migração são pouco fomentadas, seu potencial não é reconhecido.
Os recursos que a Alemanha destina à educação são bem inferiores à média de muitos outros países industrializados. O investimento por criança é bem menor do que em outros países principalmente na escola primária [até a quarta ou a sexta série]. A Alemanha é o único país do mundo que se permite exigir de jovens pais uma mensalidade de centenas de euros por uma vaga num jardim-de-infância [público].
Além disso, em nenhum outro país começa tão cedo a seleção das crianças de acordo com os diferentes tipos de escolas. Já na quarta série se decide qual será o percurso da criança pelas instâncias educacionais. Perde-se o ambiente familiar em que as crianças aprendem bem e de forma diferenciada.
Quase todos os especialistas em educação alemães concordam que a solução seria que as crianças aprendessem juntas por mais tempo numa atmosfera positiva, sem pressão para mostrarem desempenho.
Em Dresden, no entanto, não se falou a respeito de conteúdos nem de estratégias. [A chanceler federal] Angela Merkel elogiou as resoluções de quarta-feira como um importante passo em direção à "República Educacional da Alemanha". Mas, como comentou um jornal, a "Ilusão Educacional da Alemanha" teria sido um conceito mais apropriado. (lk)
Ramón Garcia-Ziemsen é chefe da editoria de Cultura do programa em alemão da DW-RADIO.