Afeganistão
16 de agosto de 2007Toda vez que alemães são assassinados no Afeganistão, os políticos responsáveis derramam palavras tranquilizadoras, apontando a tristeza e tragédia de cada caso, mas reafirmando que o fato, de forma alguma, seria motivo para reduzir o engajamento alemão no Afeganistão.
Apesar de neste ano já terem sido mortos, além dos três policiais alemães, um agente de ajuda ao desenvolvimento, um empresário e três soldados da Bundeswehr no país, o governo não parou para pensar numa estratégia para deixar o Afeganistão até agora. Muito pelo contrário: neste ano, investiu-se ainda mais no emprego de caríssimos aviões de reconhecimento e cogita-se ampliar ainda mais a ajuda na formação de forças de segurança afegãs.
Com isso, o governo se esquiva, no entanto, de uma questão essencial: Qual é o preço que estamos dispostos a pagar pela reconstrução do Afeganistão? Essa questão se torna tanto mais controversa, à medida em que fica claro o seguinte: forças influentes no Afeganistão simplesmente não querem que o país seja estabilizado e usam todos os seus poderes para tal. Esta é a diferença fundamental em relação a outros países para onde a Alemanha envia soldados ou agentes de ajuda ao desenvolvimento.
Querer implementar a paz o Afeganistão, enquanto o talibã luta na direção contrária, é muito difícil – e custa também muitas vidas. Com o assassinato dos três policiais, responsáveis pela proteção da embaixada alemã em Cabul, os criminosos tiveram por alvo direto, mais uma vez, o governo alemão. Tudo indica que o talibã tem intenção de influenciar o debate político dentro da Alemanha, pois no segundo semestre deste ano os três mandatos das Forças Armadas para o Afeganistão precisam ser prorrogados.
É claro que seria errado jogar-se aos pés do terrorismo talibã. Mas esse argumento não pode ser simplesmente utilizado para eliminar questionamentos legítimos acerca da eficácia da ajuda internacional à reconstrução do país.
A responsabilidade pelos resultados pouco satisfatórios dos últimos cinco anos, é, em parte, do próprio governo afegão. Mas também os milhares de soldados e agentes enviados ao país agiram, em parte, de maneira errônea e descoordenada, desperdiçando tempo e recursos preciosos. E o governo alemão até agora não fez um balanço honesto das chances e riscos no país.
Apesar de pesquisas de opinião mostrarem que, nesse meio tempo, a maioria dos alemães é contra a presença dos mais de três mil soldados da Bundeswehr no Afeganistão, a maioria dos políticos continua insistindo em palavras de ordem.
Com o assassinato dos três policiais, chegou-se a um ponto no qual o governo alemão não pode mais se esquivar de uma discussão objetiva. Pois enquanto cada alemão que estiver no Afeganistão tiver que temer por sua própria vida, a ajuda à reconstrução do país não poderá se mostrar efetiva. (jdc)
Nina Werkhäuser é correspondente da Deutsche Welle em Berlim para assuntos de política externa.