As notícias sobre o estado de saúde do dissidente Liu Xiaobo se tornaram cada vez mais dramáticas nos últimos dias. As funções de seu fígado pioraram continuamente, os demais órgãos pararam de funcionar, depois a respiração. E agora é oficial: o Prêmio Nobel da Paz chinês está morto.
Liu foi provavelmente o preso político mais conhecido da China, por cuja democratização ele repetidamente se engajou por meios pacíficos. Por esse motivo, foi preso várias vezes depois do fracassado movimento pró-democracia de 1989.
Em 2008, esteve entre os principais autores da Carta 08 – um manifesto por reformas políticas cujo nome se inspirou na Carta 77 do movimento pelos direitos civis na Tchecoslováquia. No ano seguinte, foi condenado a 11 anos de prisão, por "subversão do poder estatal". Essa pena ele cumpriu até o fim de junho último, quando foi transferido a um hospital com "câncer hepático em estágio terminal".
Nos últimos meses, a República Popular da China tem tentado cada vez mais melhorar a própria imagem internacional. Isso começou em janeiro, com o discurso do presidente Xi Jinping em Davos, em que ele se posicionou como defensor do livre-comércio, distanciando-se decididamente do chefe de Estado dos EUA, Donald Trump.
Também no tocante à proteção do clima global, Pequim tenta se vender como parceiro confiável. Por último, no princípio de julho, jogou-se em Berlim o grande trunfo do soft power chinês: dois meigos pandas foram solenemente apresentados durante a visita de Xi, como símbolo de uma China amiga.
A morte de Liu Xiaobo é um veemente lembrete sobre a outra China. Um país extremamente atrasado em termos de liberdade de opinião e de imprensa; uma China que encarcera seus cidadãos só por se pronunciarem pacificamente a favor de reformas políticas.