Nobel da Paz
10 de outubro de 2008Mais uma vez o comitê em Oslo conseguiu surpreender o mundo com sua decisão sobre o Nobel da Paz. No ano olímpico de 2008, o prêmio não foi para nenhum dissidente chinês, nem uma advogada russa dos direitos humanos. Mesmo assim, temos motivo para felicitar os membros do comitê pela escolha.
Embora Martti Ahtisaari no momento não esteja nas manchetes, ele mais do que merece o prêmio por tudo o que fez em sua vida. Ele é considerado em todo o mundo um dos diplomatas mais experientes em nível internacional.
Nas últimas décadas, suas missões de mediação em campos politicamente minados aproximaram da paz muitos conflitos complicados. Não é de admirar que ele estivesse por tantas vezes na lista dos nomeados para o prêmio.
O comitê Nobel salientou seu engajamento na antiga província indonésia de Aceh. Hoje em dia, apenas alguns poucos ainda se lembram da sangrenta guerra civil de três décadas, que causou a morte de dezenas de milhares de pessoas na região. O conflito faz felizmente parte do passado e isso em primeira linha é um mérito de Ahtisaari.
Mesmo que a guerra civil neste meio-tempo tenha sido esquecida, vale a pena olhar para trás, pois Aceh foi uma clara demonstração do potencial de conflitos que há no mundo. Disputas por recursos naturais, tensões étnicas, fundamentalismo religioso, problemas de meio ambiente – trata-e de uma mescla perigosa, que com o fornecimento de armas de alguma parte interessada também pode explodir em outros ambientes políticos.
Em Aceh, houve ainda o tsunami e suas conseqüências catastróficas ao longo da costa da província. Aproveitar esta crise como oportunidade é uma grande arte da diplomacia. Das ruínas da catástrofe natural elevou-se uma nova Aceh, uma província em grande parte pacífica no Estado multiétnico da Indonésia.
Ironia da história: quase que simultaneamente ao anúncio do Nobel da Paz, o ex-líder dos rebeldes, Hasan di Tiro, voltou à pátria. A guerra civil está realmente encerrada.
Aceh é apenas uma estação – talvez a mais importante – na vida do cidadão do mundo e amigo da paz Martti Ahtisaari. Há outras – nem todas as missões acabaram de forma satisfatória para todos os lados. Kosovo é a segunda palavra-chave importante na carreira de mediador do ex-presidente finlandês.
A última missão de Ahtisaari – a independência do Kosovo – enfrentou e ainda enfrenta resistência, ao menos por parte da Sérvia e da Rússia.
Mas, sejam defensores ou críticos, ao menos as controvérsias são discutidas em nível político e não com violência. E mais uma palavra-chave: também nas negociações pela independência da Namíbia Marti Ahtisaari já esteve à mesa de debates.
Nada leva a crer que o diplomata de 71 anos se recolherá para o merecido descanso após receber o Nobel da Paz. Afinal, ainda há muitos conflitos que exigem seu talento especial, a diplomacia tranqüila. Também em relação ao Iraque ele já se manifestou.
O Comitê Nobel instituiu neste ano um claro sinal da importância e da eficácia da mediação para a solução dos conflitos mundiais. Ele não poderia ter escolhido um candidato melhor do que Martti Ahtisaari para esta propagar mensagem. (rw)
Sybille Golte-Schröder é chefe da redação em indonésio e diretora das redações de DW-RADIO para a Ásia.