O aumento do preço do barril
22 de novembro de 2007O barril de petróleo chegou a custar, na quarta-feira (21/11) 99,29 dólares, segundo a cotação da Bolsa de Cingapura. Não deve demorar muito até que se ultrapasse a marca dos 100 dólares. Mas será que disso resultará uma nova crise mundial? Não necessariamente, na opinião de Rolf Wenkel, da editoria de Economia da Deutsche Welle:
No caso do petróleo, as leis de mercado vigoram de forma exemplar: oferta e procura determinam o preço. A China utiliza o petróleo como combustível para seu crescimento econômico; os Estados Unidos, para movimentar suas imensas frotas de veículos; e no Hemisfério Norte apenas começou a temporada de inverno, exigindo a calefação dos ambientes.
A oferta de petróleo não cresce no mesmo compasso, o que resulta numa série de tumultos geopolíticos: as disputas acirradas entre os EUA e o Irã, por exemplo, e dificuldades técnicas na ampliação da capacidade das refinarias. A Opep não é nada flexível quanto ao aumento das cotas de extração. Somente a Arábia Saudita estaria em condições de elevar a curto prazo a cota diária, mas é sempre impedida de fazê-lo pelos demais países produtores e exportadores dessa importante matéria-prima.
E não podemos nos esquecer dos especuladores, os maiores responsáveis pela explosão dos preços nas últimas semanas. É como uma profecia que se auto-realiza: como todos acreditam que o preço subirá, ele sobe mesmo, e os que jogam nos mercados a termo apostam num crescimento continuado. Com a crise imobiliária, as ações de bancos, por exemplo, deixaram de ser interessantes para os fundos de hedge; o dinheiro é aplicado então em contratos de petróleo.
Resumindo: se a demanda é grande e a oferta, pequena, os preços sobem. A economia é às vezes simples assim. Mais interessante é a questão de como será o impacto deste choque do petróleo sobre a economia mundial. Talvez ele seja bem menor do que muitos temem, pelo menos na Europa. A razão é que o dólar se desvalorizou muito em relação ao euro, e com isso a conta do petróleo não subiu de forma tão aparente para os europeus. A questão é diferente nos EUA, onde existe o risco de uma recessão, também em conseqüência da crise financeira e da queda do nível de confiança dos consumidores.
Na Europa, somos menos afetados pela carestia do petróleo também por outros motivos. Nós aprendemos a lidar com os altos preços da matéria-prima; a indústria química, a indústria metalúrgica, os setores de alto consumo de energia incrementaram rapidamente sua eficiência energética. Para alcançar o mesmo crescimento, precisamos hoje só da metade da energia que há 20 anos.
Além disso, registramos crescimento no setor bancário, na tecnologia de informação, na prestação de serviços, ramos em que o consumo de petróleo não é tão acentuado. O petróleo perdeu relativamente em importância em todo o planeta como fator de produção, em comparação a 20 anos atrás. É por isso que o mundo não vai parar, se o barril chegar a custar 150 dólares.
Em vez de crise, se deveria falar em uma chance. Pois quanto mais caro o petróleo, mais interessantes se tornam as alternativas, também aquelas até agora consideradas caras demais em comparação com o preço relativamente baixo do petróleo. Os cientistas estão elaborando cenários para a era pós-petróleo, realizam pesquisas intensas sobre fontes inesgotáveis de energia, tais como o sol, a água, o vento, a geotermia, a biomassa.
Já reconhecemos há muito tempo que as reservas de energia não renovável são valiosas demais para continuarmos a utilizá-las na calefação de casas mal isoladas, para ir de carro até a caixa do correio, ou voar pelo mundo afora em vôos baratos.
Toda explosão de preço tem também seu lado bom: ela obriga a indústria a empregar a energia de forma mais eficiente ainda; obriga os consumidores a ir atrás de calefações e carros mais econômicos; obriga os fornecedores de energia a investir mais do que até agora na pesquisa e na utilização de energias alternativas. Quanto mais caro o petróleo, mais vale a pena qualquer investimento que diminua nossa dependência dessa matéria-prima. Sob este prisma, não faria mal se ele continuasse encarecendo.