O Brasil está numa escalada de violência política preocupante. O assassinato de um dirigente petista em Foz do Iguaçu, no último sábado, por um agente penitenciário bolsonarista, liga o alerta vermelho.
O país corre perigo de estar diante de uma campanha eleitoral violenta. Em consequência, a segurança do pré-candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva já tem sido reforçada. Lembrando que, algumas semanas atrás, uma pessoa usou um drone para soltar um líquido fétido em cima da multidão que recebia Lula em Uberlândia.
Agora, veio um ataque com arma de fogo. O atirador havia invadido a festa de aniversário do dirigente aos gritos de "Aqui é Bolsonaro!". No salão de festa invadido havia uma toalha com o rosto de Lula estampado.
Sim, o Brasil é um país violento. Aqui se mata por pouco. Sempre achei o ápice da estupidez humana matar por causa de um time de futebol, como fazem os torcedores corintianos e palmeirenses. Mas, no caso de Foz do Iguaçu, estamos diante de um agente do Estado, ex-policial militar, que deveria saber controlar sua arma e sua cabeça. A política virou um fla-flu mortal.
"O que aconteceu tem a ver com extremismo e intolerância política. Eles não se conheciam, e nada mais explica essa tragédia", disse a mãe do bolsonarista a um jornal. Foram duas famílias destruídas, ambas com filhos pequenos, aliás.
Já faz alguns anos que a política causa um enfurecimento cada vez mais exagerado em muitos brasileiros. Os protestos de Junho de 2013 mostraram a desconfiança crescente de parcelas da população nos políticos e na política. Depois, essa raiva das ruas estendeu-se para as manifestações contra o governo de Dilma Rousseff, em 2015 e 2016, alimentadas pelo "lavajatismo" e plantando as sementes para a ascensão de Jair Messias Bolsonaro.
Seguindo seu ídolo Donald Trump, Bolsonaro apostava no discurso antissistema de um suposto outsider. Transmitia não apenas a mensagem de que o sistema politico é corrupto e deveria ser desconstruído. Envenenou a população com suas fake news malvadas, produzidas no seu "gabinete do ódio", e fazendo apologia da violência e das armas.
Esse sempre tem sido o seu discurso. Foi em 1999 que ele propagava uma "guerra civil, fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil". Depois, fazer arminha com a mão virou sua marca.
Ele e os filhos, criados em clubes de tiro, têm um fetiche militarista pelas armas que lembra a cultura redneck do sul dos Estados Unidos. Só era uma questão de tempo para aquela cultura, que resulta em assassinatos em massa quase toda semana, estabelecer-se também aqui no Brasil.
Bolsonaro fez sua parte ao facilitar o acesso às armas para a população. O registro de armas triplicou durante seu governo. "Eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme!", ele dizia em 2020 numa reunião ministerial. E em 2021, ele declarou: "Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado." E algumas semanas atrás, falava o seguinte: "A arma de fogo, além de segurança para as famílias, é segurança para nossa soberania nacional e a garantia de que a nossa democracia será preservada."
Bolsonaro, como Trump, não inventou a polarização da sociedade. Mas seu discurso envenenado funciona como catalisador das tendências já existentes. Eles usam as rachaduras existentes nas sociedades, ampliando-as para seu proveito político.
A meu ver, a função da politica é criar condições para uma convivência digna e pacífica de todas as parcelas da população. Portanto, é função dos políticos fazer de tudo para alcançar tal estado, ainda mais quando estamos falando do presidente da República.
Mas Bolsonaro, como sempre, não tem nada a ver com as desgraças que acontecem no país governado por ele. "Agora, o que eu tenho a ver com esse episódio de Foz do Iguaçu? Nada!!!", esquivou-se o presidente. Enquanto isso, seu filho Eduardo, criado em clubes de tiros e grande fã de Trump e da cultura armamentista redneck, postava uma foto da festa de aniversário dele, apenas horas depois da morte do dirigente petistas.
No aniversário de Eduardo Bolsonaro ninguém invadiu o salão de festas. Mas houve uma arma, sim. Eduardo fez questão de mostrar no Instagram que celebrou seu aniversário com um um bolo decorado por um revólver e projéteis. Segue firme o lema cristão do seu pai: "Jesus só não comprou pistola porque não tinha". Para essa família, sempre há gozação com a morte alheia, ao invés de compaixão.
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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.
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