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Opinião: O rei está nu

18 de maio de 2017

Quando políticos não se constrangem em pedir propina nem mesmo em meio às investigações da Lava Jato, perde-se a capacidade de dimensionar a podridão do sistema, opina Francis França, editora-chefe da DW Brasil.

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O governo Temer já começou envolvido em uma série de escândalos, com boa parte de seu gabinete investigado na Operação Lava Jato, mas até agora a figura do presidente parecia blindada das acusações. Isso mudou nesta quinta-feira, com as revelações de que Temer teria consentido ao pagamento de propina em troca do silêncio do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Com os novos desdobramentos, Michel Temer deve perder seu bem mais precioso: o apoio no Congresso. Nas primeiras horas após a revelação do que se chamou de "bomba atômica no Planalto", a própria base aliada do presidente defendeu sua renúncia.

É um sinal surpreendentemente claro, visto que até agora muitas falhas do governo foram toleradas. A democracia brasileira assistiu à blindagem de figuras investigadas por corrupção, a conflitos de interesse e a reformas profundamente impopulares que avançam a toque de caixa graças a apoio concedido em troca de favores políticos. E durante esse baile que já dura mais de um ano, segue-se comentando sem assombros sobre a nova roupa do rei.

Pois hoje finalmente ficou claro que o rei está nu. E isso não deveria surpreender ninguém, afinal, o fisiologismo e as negociatas são moeda corrente no Congresso desde sempre, e explícitas pelo menos desde o escândalo do mensalão. O apoio no Legislativo nunca vem de graça e geralmente custa caro ao contribuinte.

Agora quando políticos não se constrangem, nem mesmo em meio às investigações da Operação Lava Jato, em pedir propina a investigados, perde-se a capacidade de dimensionar a podridão do sistema. Conforme avançam as investigações, mais os poderosos trabalham para garantir a própria impunidade.

Neste momento, a Polícia Federal prestou um valoroso serviço à população brasileira, ao colher indícios concretos de conduta criminosa. Não apenas declarações, mas áudios e vídeos. Provas. Que haja mais operações controladas como esta.

Pois diante dos fatos sucumbem os argumentos. Se o áudio em que diz "Tem que manter isso, viu?" se refere de fato à compra do silêncio de Eduardo Cunha, Temer não tem escolha a não ser renunciar. Se não o fizer, espera por ele uma sentença no TSE, que a essa altura já não deve mais se sentir compelido a prezar pela governabilidade.

A crise política já se arrastou por tempo demais. O Brasil precisa agora encontrar uma maneira de sair deste beco sem saída em que se meteu desde 2014 – e as revelações sobre Aécio Neves mostram que o destino não teria sido melhor caso o resultado da eleição presidencial fosse diferente.

A democracia brasileira precisa de novas lideranças, porque nem mesmo eleições neste momento parecem capazes de livrar o país da crise ética em que se encontra. Só uma profunda reforma política, com a instauração de mecanismos de transparência e controle, pode reverter esse cenário sombrio. Os políticos corruptos precisam ser responsabilizados por seus crimes contra o país. E parar de cometê-los.