Opinião: O rei está nu
18 de maio de 2017O governo Temer já começou envolvido em uma série de escândalos, com boa parte de seu gabinete investigado na Operação Lava Jato, mas até agora a figura do presidente parecia blindada das acusações. Isso mudou nesta quinta-feira, com as revelações de que Temer teria consentido ao pagamento de propina em troca do silêncio do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Com os novos desdobramentos, Michel Temer deve perder seu bem mais precioso: o apoio no Congresso. Nas primeiras horas após a revelação do que se chamou de "bomba atômica no Planalto", a própria base aliada do presidente defendeu sua renúncia.
É um sinal surpreendentemente claro, visto que até agora muitas falhas do governo foram toleradas. A democracia brasileira assistiu à blindagem de figuras investigadas por corrupção, a conflitos de interesse e a reformas profundamente impopulares que avançam a toque de caixa graças a apoio concedido em troca de favores políticos. E durante esse baile que já dura mais de um ano, segue-se comentando sem assombros sobre a nova roupa do rei.
Pois hoje finalmente ficou claro que o rei está nu. E isso não deveria surpreender ninguém, afinal, o fisiologismo e as negociatas são moeda corrente no Congresso desde sempre, e explícitas pelo menos desde o escândalo do mensalão. O apoio no Legislativo nunca vem de graça e geralmente custa caro ao contribuinte.
Agora quando políticos não se constrangem, nem mesmo em meio às investigações da Operação Lava Jato, em pedir propina a investigados, perde-se a capacidade de dimensionar a podridão do sistema. Conforme avançam as investigações, mais os poderosos trabalham para garantir a própria impunidade.
Neste momento, a Polícia Federal prestou um valoroso serviço à população brasileira, ao colher indícios concretos de conduta criminosa. Não apenas declarações, mas áudios e vídeos. Provas. Que haja mais operações controladas como esta.
Pois diante dos fatos sucumbem os argumentos. Se o áudio em que diz "Tem que manter isso, viu?" se refere de fato à compra do silêncio de Eduardo Cunha, Temer não tem escolha a não ser renunciar. Se não o fizer, espera por ele uma sentença no TSE, que a essa altura já não deve mais se sentir compelido a prezar pela governabilidade.
A crise política já se arrastou por tempo demais. O Brasil precisa agora encontrar uma maneira de sair deste beco sem saída em que se meteu desde 2014 – e as revelações sobre Aécio Neves mostram que o destino não teria sido melhor caso o resultado da eleição presidencial fosse diferente.
A democracia brasileira precisa de novas lideranças, porque nem mesmo eleições neste momento parecem capazes de livrar o país da crise ética em que se encontra. Só uma profunda reforma política, com a instauração de mecanismos de transparência e controle, pode reverter esse cenário sombrio. Os políticos corruptos precisam ser responsabilizados por seus crimes contra o país. E parar de cometê-los.