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O torneio mais questionável do mundo

Marko Langer
30 de agosto de 2020

Com o US Open, o tênis vai ser mega novamente: direitos de transmissão, publicidade... Pandemia? Ah, é... Para os cartolas do nobre esporte, dinheiro é o que conta, mesmo à custa dos esportistas, opina Marko Langer.

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Tenista Andy Murray de máscara protetora e mochila
Andy Murray estará entre os competidores em Nova YorkFoto: picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II

Bem, vamos começar pelo positivo: pelo menos os cartolas da Associação de Tênis dos Estados Unidos (USTA) conseguiram concentrar dois torneios na mesma locação: antes do começo do Aberto dos EUA (US Open), nesta segunda-feira (31/08), transcorre também no gigantesco estádio em Nova York a competição originalmente programada para Cincinatti.

Assim, jogadoras e jogadores ficam poupados da viagem através da metade do país: passando por diversos estados e rodovias, seriam 1.019 quilômetros; de avião, duas horas.

Mas aqui praticamente acabam as boas notícias. Pois se os quase 350 esportistas chegarem ao fim do torneio, em 13 de setembro, sãos e salvos, ou seja, sem contar a covid-19 – o que se deseja sinceramente –, quase todos vão embarcar num avião, a maioria com destino à Europa: em Paris começa em 21 de setembro o Aberto da França, no Estádio Roland Garros, reformado a altos custos.

Já em tempos normais, seria uma viagem estranha: primeiro EUA, depois Europa, primeiro quadra dura, depois saibro. Mas os tempos não são normais, e o comportamento dos responsáveis pelo tênis profissional tampouco.

Nunca esteve tão óbvio até que ponto as associações de tenistas masculinos, ATP, e femininas, WTA, a Federação Internacional de Tênis (ITF) e os promotores dos grandes torneios Grand Slam (atrás dos quais estão as diversas associações nacionais) são incapazes de dar um formato sustentável a seu esporte.

Em vez disso, o que conta são dinheiro e negócios. ESPN, Tennis Channel, Eurosport: todas querem transmitir os jogos, pacotes para patrocinadores estão vendidos, espaço para publicidade, programação em horário nobre.

Coronavírus? Ah, é mesmo...

The show must go on. E, no entanto, paralelamente à pandemia, há um outro assunto: os jogadores de basquete da NBA e profissionais de outras ligas dos EUA acabam de provar que, diante da violência policial de fundo racista, o país não pode mais simplesmente continuar com o show.

No tênis profissional, a vencedora do Aberto de 2018, Naomi Osaka, emitiu um sinal eloquente, com sua recusa provisória de participar das semifinais do torneio preparatório em Nova York, no fim de agosto. "Como mulher negra, tenho a impressão de que há coisas muito mais importantes, exigindo atenção imediata, do que assistir a jogos de tênis", declarou no Twitter.

Os organizadores acataram a deixa dela – um tanto a contragosto – e cancelaram todo dia de competição. Fora isso, partindo dos representantes do esporte tradicionalmente "branco", escuta-se relativamente pouco a respeito do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).

A maioria dos tenistas profissionais no momento reunidos em Nova York frisará quão contente está de poder voltar a se apresentar – mesmo que seja para a bacia gigante chamada Arthur Ashe Stadium totalmente deserta: nada de espectadores, apenas supervisores nas arquibancadas.

Em compensação, apresentou-se um elaborado esquema de higiene, de sete páginas, denominado Health and safety plan – o qual, aliás, prevê que os atletas sejam testados para o coronavírus já no Marriott-Uniondale, um dos hotéis mais disputados entre os jogadores.

US Open 2020? Um dos torneios de tênis mais questionáveis do mundo. A Associação Alemã de Tênis (DTB) tomou uma boa decisão ao se limitar à série regional de torneios. O All England Lawn Tennis & Croquet Club (AELTC) fez melhor ainda: Grand Slam em tempos de pandemia? Wimbledon? Cancelados.

Para todos aqueles que pretendam reservar passagem da Alemanha para o Aberto da França em Paris: o governo federal desaconselha expressamente viagens à cidade da Torre Eiffel.