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O vírus adora a Eurocopa

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Jens Krepela
4 de julho de 2021

Já foram constatados surtos de covid-19 em países europeus diretamente relacionados a torcedores que viajaram para partidas. Uma irresponsabilidade, opina Jens Krepela.

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Torcedores ingleses em Londres, durante a partida contra a Alemanha
Torcedores ingleses em Londres, durante a partida contra a AlemanhaFoto: Zac Goodwin/PA Images/imago images

Ver estádios com público, algumas vezes lotados, na Eurocopa deixou muitos torcedores, apesar de todo o entusiasmo, com uma sensação estranha. Será que isso é realmente uma boa ideia? Não, não é. Hoje já se sabe que autoridades na Finlândia e na Dinamarca detectaram surtos de coronavírus facilmente rastreados até torcedores que viajaram para partidas. Só na Escócia, foram cerca de 1.500 casos.

"Estamos claramente preocupados", disse Hans Kluge, funcionário da Organização Mundial da Saúde (OMS) responsável pela Europa, em referência à Eurocopa.

Restam apenas alguns jogos até o fim do torneio, mas eles serão difíceis. Embora a taxa de contágio esteja aumentando de forma significativa no Reino Unido, 60 mil pessoas serão admitidas no Estádio de Wembley para as duas semifinais e a final.

Por pressão da Uefa. Um mistério é por que o governo britânico está se curvando a isso e permitindo multidões nos estádios, além de regras especiais para milhares de convidados VIP da federação inglesa de futebol, enquanto o relaxamento das regras em todo o país foi adiado.

Seria porque um conflito com a Uefa diminuiria as possíveis ambições britânicas de sediar a Copa do Mundo de 2030? O estádio em si ainda desempenha um papel um pouco menor como local de infecção. Mas as multidões têm que chegar ao estádio de ônibus ou trem, os torcedores lotam os acessos e saem para comemorar juntos depois. "Precisamos investigar muito mais do que apenas os estádios", disse a chefe de resposta a emergências da OMS na Europa, Catherine Smallwood.

Além das infecções, o sinal que está sendo enviado é devastador. Como você pode explicar às crianças em idade escolar que elas terão que sentar em sala de aula com máscaras e distanciamento até o próximo ano, enquanto milhares de torcedores em outros lugares estão aglomerados? Os jovens na Alemanha têm problemas com a polícia porque se rebelam contra as regras de distanciamento social, mas, em nome do futebol, não importa se os torcedores não usam máscaras no estádio. Difícil de explicar.

E a Uefa? Nos bastidores, a associação ameaça e faz lobby para conseguir estádios cheios e para contornar as regras. Os interesses comerciais estão claramente à frente. Em resposta às duras críticas de todos os lados, incluindo a da OMS, a federação se esquiva de responsabilidade.

"As medidas para conter a pandemia foram totalmente coordenadas com os regulamentos das autoridades sanitárias locais relevantes em cada cidade", disse a Uefa. O Ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, classificou o comportamento da Uefa como "absolutamente irresponsável".

O fato de o político só ter feito tal declaração após a eliminação da equipe alemã pode ser uma tática. Em termos de conteúdo, ele está certo. Como organizadora da Eurocopa, a Uefa teria que fazer muito mais: concentrar-se no combate à pandemia e reduzir significativamente o número de espectadores. Contra as competições esportivas em si em tempos de pandemia, há pouco a ser dito.

Os organizadores do maior evento esportivo do mundo, os Jogos Olímpicos, mostram como isso pode ser feito. As competições em Tóquio começam em três semanas e podem ser sem público, devido ao aumento dos números de infecções. "Há a possibilidade de não haver espectadores", disse o chefe de governo japonês, Yoshihide Suga, "Para nós, a saúde e a segurança dos cidadãos japoneses é nossa prioridade máxima". Não me parece que o governo do Japão se deixe pressionar pelo COI. É assim que tem que ser.

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O jornalista Jens Krepela é repórter do Departamento de Esportes da DW. O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente da DW.