Opinião: Palmira e a dinâmica no Oriente Médio
29 de março de 2016É inegável: o "Estado Islâmico" (EI) está em retirada na Síria e no Iraque. A antiga cidade de Palmira foi reconquistada pelas tropas de Bashar al-Assad. Isso é importante tanto simbólica quanto estrategicamente, porque agora o regime pode e deve focar no centro do EI, a cidade de Raqqa. E o Exército iraquiano está se preparando para invadir Mossul. Se isso funcionar, o território do "Estado Islâmico" ficaria comprimido. E sua derrota, sua destruição, passaria a ser previsível.
Isso não muda em nada o risco de ataques terroristas na Europa. Pode até ser que a ameaça terrorista aumente pelo fato de, tão pressionado em sua região de origem, o EI possa vir a atacar de maneira brutal e desorientada. Mas uma coisa é certa: o grupo está sob pressão do ponto de vista militar. E cada vez menos combatentes se juntam a ele voluntariamente.
O provável declínio do EI, da barbárie cotidiana em nome do islã, desse prepotente califado, é antes de tudo uma benção para as pessoas na Síria e no Iraque. Mas com a vitória de Assad em Palmira – com apoio da Rússia – muda também a relação estratégica de forças na região. Assad volta definitivamente a ser um fator de poder, o que é inegável – ainda que graças a Moscou, que, se quiser, pode fazer com que ele caia rapidamente.
Quem desejar a paz ou ao menos o fim da guerra na região não pode ignorar Assad. Isso deixa um gosto amargo para a oposição síria no exílio, mas é a realidade política. O homem responsável por cinco anos de guerra civil, por mais de 250 mil mortes, por tortura e por deslocamento volta a ser uma peça extremamente importante no jogo de poder no Oriente Médio.
E também os russos são agora mais do que nunca uma potência à mesa de negociações. Eles tornaram os sucessos contra o EI possíveis. E eles não vão deixar que esse prêmio lhes seja removido. Por um lado, isso significa que Assad permanece no cargo; por outro, apesar de todos os problemas econômicos em casa, os russos voltam a ser mais do que um ator influente no Oriente Médio. E isso não por causa das bases da Síria, mas sim porque, na região, eles são o oposto dos EUA, que, sob o comando de Obama, se retiraram e não parecem ter interesses próprios por ali. Um provável erro fatal, mas que, depois do fiasco na guerra do Iraque, é ao menos compreensível.
E os europeus? Estão ocupados com a crise de refugiados? É verdade que eles participam das negociações sobre o conflito na Síria. E estão dispostos a se engajar economicamente, também com soft skills. No entanto, eles apenas participam das conversas e, na melhor das hipóteses, seriam um dos signatários de uma paz negociada.
Sua influência – nessa região vizinha tão importante do ponto de vista da geopolítica – é de modesta a mínima. E também Paris e Londres, que tradicionalmente adotam uma política própria para o Oriente Médio, estão à margem dos acontecimentos e apenas os observam. Mesmo que a França tenha se engajado militarmente desde os atentados de 13 de novembro de 2015, não se vê um efeito em termos de influência política.
A situação estratégica atual é a seguinte: Assad é o grande vencedor na luta contra o EI. Os russos voltaram a ter influência. Os americanos observam, mesmo que distraídos pela campanha eleitoral e apesar do incansável John Kerry. Os europeus participam das conversas, mas não decidem nada. O EI está prestes a afundar. Mas o terrorismo islâmico vai continuar. No Paquistão, na Nigéria ou na Europa. Ele continua sendo o desafio social do mundo árabe e islâmico. E o Irã luta com êxito pela hegemonia regional – também dos xiitas. E a Arábia Saudita, enredada na guerra no Iêmen, perde. Ao menos neste momento. Em outras palavras: a guerra não declarada entre xiitas e sunitas continua.