"Nunca antes na história deste país" era um dos bordões favoritos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando ainda no cargo. Referia-se, e com propriedade, às conquistas sociais e econômicas do seu governo. Nesta quarta-feira (12/07), acabou virando ironia histórica.
Pois nunca antes na história deste país um ex-presidente havia sido condenado por um crime. E pelo mais desprezível dos crimes que um político pode cometer aos olhos dos brasileiros, a corrupção, o uso do poder público em benefício material próprio.
Pelo viés histórico e biográfico, a sentença do juiz Sergio Moro representa uma queda impressionante para quem já foi um dos presidentes mais populares da história do país e um dos políticos mais populares e carismáticos do mundo. Se confirmada, ela será o enterro trágico da carreira política de Lula, que tem 71 anos.
Porém, à parte a ironia histórica, a tragédia biográfica e a marca de corrupto que a condenação judicial, acompanhada da inevitável condenação midiática de uma imprensa já ávida por condená-lo, a sentença de Moro não tem efeitos práticos imediatos. Lula não irá para a cadeia, como decidiu o juiz, nem a sentença é definitiva, pois é de primeira instância e cabe recurso. O ex-presidente também não está impedido de concorrer à Presidência da República em 2018.
Lula pode, ainda, ser inocentado pela segunda instância, o TRF da 4ª Região.
Os efeitos mesmo são para aquilo que, aos olhos de muitos brasileiros, está por trás da sentença: a campanha presidencial de 2018, que está a pleno vapor. E Lula lidera as pesquisas. Tirá-lo de lá é obviamente o interesse de todos os inimigos do PT. E eles são muitos.
Lula e o PT vão, agora, insistir no discurso da perseguição política, da tentativa de tirá-lo a todo custo da campanha eleitoral. E num país onde uma presidente perdeu o mandato mais por impopularidade – tanto entre parte da população como entre a elite empresarial – do que por crimes que tenha cometido, num país onde não faltam políticos acusados de corrupção em plena liberdade, é um argumento de alto poder de convencimento e de enorme peso entre a camada de eleitores de Lula.
Já para os detratores de Lula, a condenação é a prova definitiva de que ele é corrupto, pouco importando para eles se a sentença é definitiva ou não.
Assim, a condenação de Lula a nove anos e meio de prisão é um terremoto político que aprofunda ainda mais a divisão dentro de uma sociedade já polarizada, que acirra ainda mais os ânimos já em pé de guerra entre a direita e a esquerda. Ela é, preferências políticas à parte, um golpe duro e de elevado valor simbólico para uma nação que acreditou em si mesma e hoje parece não encontrar o fundo do poço. E ela indica que a crise política e econômica que há anos emperra o Brasil e é uma decorrência dessa polarização social ainda está muito longe do fim.