Proibição de protesto em Dresden obscurece Alemanha
19 de janeiro de 2015Você já ouviu falar em Dieter Kroll? Ele é chefe do departamento de polícia de Dresden e exerceu sua autoridade no domingo (18/01) para proibir, por 24 horas, manifestações ao ar livre na cidade. A justificativa foi que há um "perigo iminente para a vida e integridade das pessoas".
Sua decisão foi tomada com base em investigações das polícias federal e estadual. Terroristas teriam sido convocados a se misturar entre os manifestantes do movimento anti-islâmico Pegida, a fim de cometer o assassinato de um membro da equipe organizadora.
O domingo foi um daqueles dias em que mal se pode acreditar no noticiário: o líder do movimento Pegida [sigla alemã para Europeus patriotas contra a "islamização" do Ocidente], Lutz Bachmann, um homem com antecedentes criminais, como possível vítima de terroristas islâmicos?
E isso depois de seus chamados "patriotas" terem conseguido por várias semanas – também graças ao relativo apoio daquela que classificaram como "imprensa da mentira" – atiçar o ânimo da população contra estrangeiros e jogar uma nuvem negra sobre a Alemanha?
Essa pessoa não serve para ser mártir. Mas mesmo assim o perigo de terrorismo cresce, dizem observadores mais atentos. Ninguém quer imaginar o que pode acontecer no caso de um atentado.
Mas estamos mais seguros agora? E quanto às próximas manifestações em Dresden, Leipzig e em outros lugares? Carros alegóricos carnavalescos também vão representar um perigo? Por motivos de segurança, também não teria sido melhor ter cancelado a nova edição do Charlie Hebdo ou as grandes manifestações de apoio em Paris, por motivos de segurança?
Provavelmente não. Mesmo que seja difícil: é preciso enfrentar a ameaça terrorista. Mas agora o fato de o direito de manifestação ter sido tolhido – mesmo que seja por um só dia – equivale a uma admissão de erro.
A decisão do chefe de polícia teria resistido a uma avaliação jurídica somente se houvesse provas concretas. A princípio, ninguém tentou isso em Dresden. E qual interesse o movimento anti-islâmico Pegida poderia ter em tal avaliação?
Porque, na próxima vez, um número maior de pessoas será atraído às ruas pelos flautistas caçadores de ratos na Saxônia. "A islamização já começou", bradou o porta-voz do partido AfD Alexander Gauland, o líder do braço parlamentar dos autoproclamados patriotas. Ele também é um caçador de ratos.
Com a decisão de domingo, as autoridades da Saxônia provavelmente evitaram danos. Porém, no grande e movimentado burburinho sobre salafistas, islamistas, células terroristas e outras ameaças, a Alemanha ficou mais sombria no fim de semana.
O fato de não existir ninguém aqui que possa ligar a luz e de até mesmo as palavras da chanceler federal Angela Merkel terem, nos últimos tempos, mostrado pouco efeito benéfico diz muito sobre a democracia na Alemanha 70 anos depois do fim de uma era bastante sombria. Com ou sem ameaça de islamistas.
"Em todos os disparates que acontecem, a culpa não está somente naqueles que os provocam, mas também naqueles que não os impedem", escreveu o escritor nascido em Dresden Erich Kästner. Ou: "O passado deve falar, e temos de ouvir. Antes disso, nem ele nem nós teremos descanso."
E esse é o caso agora.