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Proposta de um exército europeu já nasce morta

Felix Steiner (ca)9 de março de 2015

Presidente da Comissão Europeia sugere criar exército da UE em resposta a atitudes como a da Rússia na crise da Ucrânia. Tentativa anterior semelhante mostra que proposta não tem futuro, opina articulista Felix Steiner.

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Felix Steiner
Foto: DW/M.Müller

Será que Jean-Claude Juncker não tem nenhum livro de história europeia em seu escritório? Se tiver, poderia ler o capítulo sobre a Comunidade Europeia de Defesa. É história de um triste fracasso, já com mais de 60 anos.

O plano – e este é um paralelo interessante em relação aos dias atuais – surgiu em face de uma crise: em julho de 1950, com ajuda chinesa, a Coreia do Norte atacou a Coreia do Sul, com o objetivo de unir o país sob a bandeira do comunismo.

Na Europa, temia-se algo semelhante, e assim nasceu o revolucionário conceito de retirar a autonomia nacional das Forças Armadas de França, Itália e dos países do Benelux, bem como da nascente força militar da Alemanha Ocidental, sujeitando-as a um comando supranacional comum. Tudo isso fiel ao lema: somente unidos seremos fortes e só assim um de nós não será forte demais – em especial a Alemanha, de quem ainda se desconfiava fortemente depois do fim da era nazista.

Embora o plano estivesse quase concluído, passados apenas quatro anos, acabou fracassando no Parlamento do país-membro mais poderoso da época – na Assembleia Nacional da França. Por quê? Porque a Grande Nation não queria abdicar de tanta soberania. Além disso, o medo de uma nova guerra, forte em meados de 1950, havia diminuído em agosto de 1954.

Assim, fica uma pergunta até banal: o que é diferente na França de 2015 em relação à França de 1954? Como, por exemplo, a França daria prosseguimento ao seu extenso envolvimento militar na África se a União Europeia tivesse que decidir sobre cada detalhe? Impossível! Paris vai permitir? Claro que não! A proposta de Juncker fracassa, portanto, no mesmo ponto em que proposta semelhante já fracassou antes.

E não existe somente a França. O Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) tem os mais amplos direitos de autorização, no que diz respeito à atuação das Forças Armadas, entre todos os parlamentos da União Europeia (UE). Alguém acredita mesmo que os parlamentares alemães abdicariam desse direito em favor de uma instituição da UE – não importa se ela for o Parlamento Europeu ou a Comissão Europeia?

Não, a iniciativa de Juncker não tem nenhuma chance, também porque a sua justificativa é simplesmente errada. Juncker alega que a política europeia não teria credibilidade e que, com um exército comum, seria possível mostrar à Rússia que a defesa dos valores da UE é levada a sério. Mais uma vez fica a pergunta: mas o que mudaria com um exército comum? Um exército comum, cuja atuação estivesse excluída categoricamente desde o início de uma crise, amedronta tanto quanto 28 exércitos nacionais, cujas atuações também foram descartadas de antemão na atual crise.

É por isso que a política externa europeia não tem credibilidade. E também porque, muito frequentemente, os políticos europeus não falam em uníssono e não atuam em conjunto. Por exemplo quando uma maioria quer isolar Putin, enquanto alguns poucos o recebem ou até mesmo visitam!

O problema do poderio militar da Europa também não reside na existência de exércitos nacionais. Se os países-membros da UE ainda não conseguem se defender sozinhos e dependem dos EUA mais do que nos tempos da Guerra Fria, isso tem a ver apenas e simplesmente com o fato de que ninguém quer gastar o dinheiro necessário.

E é precisamente aí que se encontra a parte traiçoeira dos aplausos que Juncker recebeu dos social-democratas alemães: segundo eles, um Exército comum cria sinergias, podendo-se assim economizar muito dinheiro. Ou seja, o objetivo é investir ainda menos em segurança.

A UE poderia aprender muito com os seus pequenos Estados-membros: a maioria já especializou suas tropas nas divisões militares usadas pela Otan. Somente os grandes países, como França, Alemanha, Reino Unido, Espanha, Polônia e Itália, ainda mantêm suas próprias divisões, que fazem de tudo um pouco, mas nada direito.

Órgãos competentes para levar adiante a especialização de tropas e a divisão de tarefas em nível de Otan e UE já existem há muito tempo. Mas, até agora, eles são modestos em seus resultados. As maneiras de grande potência dos países com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU impedem qualquer progresso.

Uma dica final para Juncker: já faz dez anos que os Grupos de Combate da UE estão em prontidão – como tropas de ação rápida na Europa ou em regiões de crise no Oriente Médio e África. A responsabilidade passa de forma rotativa de uma nação para a outra, algumas organizações já estão exemplarmente constituídas de forma multinacional. Só que, em dez anos, os Grupos de Combate nunca entraram em ação. No fundo, tudo é uma questão da vontade política comum.